Revista Casa Marx

A IV Internacional na Europa e Sobre a história da Oposição de Esquerda

Leon Trótski

C.L.R. James

A tradução do diálogo entre Trotski e CLR James sobre a Oposição de Esquerda e a IV Internacional na Europa se inserem num conjunto de discussões no SWP nos anos 30. O diálogo é a continuação do debate sobre o movimento negro e a questão negra nos Estados Unidos que está traduzida no livro das edições Iskra, “A Revolução e o Negro”, organizado por Marcelo Pablito, Letícia Parks e Daniel Alfonso.

A IV Internacional na Europa

JAMES: Eu gostaria de ouvir o que o camarada Trótski pensa sobre o tremendo aumento do espírito combativo dos trabalhadores franceses e o declínio do nosso movimento nesse período. Na conferência de fundação houve seis sessões dedicadas à questão francesa e, no final, uma disputa sobre a natureza da resolução que seria escrita. Isso nos dá uma noção de dificuldade. C. e S. [James P. Cannon e Max Shatchman] pensaram que essa seria quase totalmente uma questão de liderança e organização. Blasco [Pietro Tresso] pensou que os camaradas sabiam analisar a situação política, mas faltavam-lhe a capacidade de intervir diretamente na luta das massas. Minha visão pessoal é que é devido à composição social do grupo, sua concentração em Paris e seu interesse predominante na política ao invés da indústria, apesar de ter notado no meio de 1937 uma mudança de orientação. Entretanto, eu ainda acredito que essa é a questão que demanda uma análise cuidadosa.

A questão espanhola. Eu acredito que não é tarde demais para iniciar, de todas as fontes possíveis, uma investigação da atividade organizativa dos nossos camaradas na Espanha, começada em 1936. Do que fiquei sabendo, 500 camaradas bem organizados dentro do POUM teriam sido capazes de fazer, pelo menos, uma tentativa na ruptura de poder em maio de 1937. Acredito que temos muito a aprender dos métodos desses camaradas dentro do POUM e fora dele. Assim como na França e talvez na Holanda e na Britânia, onde existem partidos centristas entre nós e a Social Democracia, onde é mais provável que teremos que atuar como nossos camaradas dentro do POUM na Espanha; por essa razão acredito ser importante que pensemos sobre as experiências dos nossos camaradas na Espanha.

A sessão britânica. Vocês estão familiarizados com a história dessa sessão: a ruptura em 1936 e a formação de dois grupos, um conformado dentro do Partido Trabalhista [Labour Party] e um fora dele. Quando C. chegou no verão de 1938, os dois grupos tinham cerca de 70 pessoas. O Partido Trabalhista era mais estável. A Liga Socialista Revolucionária [Revolutionary Socialist League]] consistia na fusão entre a antiga Liga Marxista [Marxist League], que rompeu com Groves, e o Grupo Marxista [Marxist Group], e estava em contato com cerca de 20 admiráveis camaradas em Edimburgo. O pacto de unidade e paz estipulou que cada grupo continuaria suas atividades e depois de 6 meses seria feito um balanço desse período. As últimas notícias é que a tensão continua e que o Partido Trabalhista agora é predominante.

Há um outro grupo – o grupo de Lee dentro do Partido Trabalhista – que se recusou a se envolver na fusão, dizendo que estava fadado a falhar. Esse grupo é muito ativo.

Eu disse ao camarada C. que ultimamente cheguei à conclusão que (a) não tenho nenhuma objeção à grande parte de camaradas que estavam no Partido Trabalhista; (b) mas que o grupo independente que tinha seu jornal próprio deveria continuar. Na nossa última análise, a fração que estava no Partido Trabalhista não iria ganhar um grande número de militantes nas presentes circunstâncias, e a independência do nosso grupo com um jornal era absolutamente necessária. Wicks, Sumner, Sara e outros da antiga Marxists League, que atuaram no Partido Trabalhista por quatro anos e ainda estão lá, concordaram conosco que nossa voz independente era necessária. Os camaradas dentro do Partido Trabalhista queriam um jornal teórico como o New International. Nós dizemos que não; queríamos um jornal como o antigo Militant, parte teórico, parte agitativo. Não há muitas mais discussões sobre a questão inglesa, já que tivemos bastante tempo para refletir. É claro que nenhum conselho ou política pode fazer milagres.

A posição do ILP [Independent Labour Party], entretanto, é importante para nós. Organizacionalmente, é fraca, mas tem 4 MPs [membros do parlamento], seu jornal vende cerca de 250 à 300 cópias por semana, suas conferências e pronunciamentos são publicados nos jornais burgueses e tem o suporte financeiro necessário para manter 15 candidatos em uma eleição (a maioria deles perde seu depósito de $750 por candidato). No geral, diz muito o tipo de coisa que nós dizemos e dá o apoio financeiro e moral que, por exemplo, nós damos nos Estados Unidos, onde não há ninguém entre nós e a Social Democracia, tal como ela é. Além disso, o ILP está sempre abrindo e fechando, mas nós podemos tirar vantagem das rupturas consistentes e a insatisfação em geral da ala à esquerda. Se nós pudéssemos fazer com que o ILP se rompesse e, como Maxton ameaçou fazer por conta própria, dirigir os membros escoceses para a Escócia e deixar o campo inglês livre, nós poderíamos não imediatamente criar um partido capaz de dirigir as massas, mas poderíamos ter um progresso extraordinário.

Acredito que a resolução de 1936 sobre os partidos centristas, que afirmou que o ILP logo se transformaria em stalinismo, foi um erro que desorientou a seção inglesa. Atualmente, parece que nosso progresso na Britânia em relação ao ILP depende em grande escala se nossa sessão francesa é bem sucedida em atrair para si os melhores elementos da PSOP [People’s Socialist Opposition Party]. No entanto, proponho que nossa sessão britânica não negligencie de forma alguma o ILP e, por meio de panfletos, da nossa imprensa e de artigos, se direcione de forma concentrada para as suas fraquezas e divergências, faça seu melhor para acentuar as rupturas que estão constantemente se abrindo e facilite a sua destruição.

Finalmente, há a questão dos camaradas entrando na indústria, como foi feito em um ou dois distritos na América, onde intelectuais, na sua determinação de entrar em contato com as massas, entraram na indústria alimentícia e outras indústrias sempre que possível; em alguns lugares com grande sucesso. Ao meu ver, parece que na França, e certamente na Britânia, isso é um meio que poderia facilmente ser uma tentativa de fortalecer o contato com as massas, que é uma das maiores fraquezas do nosso partido nas grandes cidades como Londres, Paris e, em alguma medida, Nova York; enquanto o partido belgo, assentado na classe trabalhadora nas províncias, é extremamente bem organizado e, apesar de certas fraquezas políticas durante o último período, mostram que, em uma revolta como a que aconteceu na França, poderiam cumprir um papel consideravelmente mais poderoso e poderiam demonstrar um progresso infinitamente maior do que o que a nossa sessão francesa demonstrou.

TRÓTSKY: Sim, a questão é por que não estamos progredindo de acordo com o valor das nossas concepções, o que não é tão insignificante como alguns amigos acreditam. Não estamos progredindo politicamente: esse é um fato que é expressão de uma década de declínio dos movimentos de trabalhadores nos últimos quinze anos. É a principal causa. Quando o movimento revolucionário em geral está decaindo, quando uma derrota segue a outra, quando o fascismo se espalha pelo mundo, quando o “Marxismo” oficial é a maior ferramenta de enganação dos trabalhadores, e assim em diante, é inevitável que os elementos revolucionários devam atuar contra a corrente histórica, mesmo que nossas ideias, nossas explicações, sejam tão exatas e sábias quanto um pode exigir.

Mas as massas não são educadas por uma concepção de prognóstico teórico, mas pelas suas próprias experiências. É a explicação mais geral – toda a situação está contra nós. Deve acontecer uma mudança de realização da classe, nos seus sentimentos, nos sentimentos das massas; uma mudança que nos dará uma oportunidade de grande sucesso político.

Me recordo de algumas discussões em 1927 em Moscou depois que Chiang Kai-shek tranquilizou os trabalhadores chineses. Nós previmos isso 10 dias antes e Stálin se opôs a nós com o argumento que Borodin estava vigilante, que Chiang Kai-shek não teria a oportunidade de nos trair, etc. Acredito que isso foi oito ou dez dias antes da tragédia acontecer 1, e nossos camaradas expressaram otimismo porque nossa análise era tão clara que todos iriam ver e teríamos a certeza de ganhar o resto do partido. Eu respondi dizendo que a estrangulação da Revolução Chinesa é um milhão de vezes mais importante para as massas do que as nossas previsões. Nossas previsões podem ganhar alguns intelectuais que se interessam por esses assuntos, mas não as massas. A vitória militar de Chiang Kai-shek iria provocar, inevitavelmente, uma depressão que não resulta no crescimento de uma fração revolucionária.

Desde 1927 nós tivemos inúmeras derrotas. Somos semelhantes a um grupo que tenta subir uma montanha e que sofre de novo e de novo com a queda de rochas, neve, etc. Na Ásia e na Europa se alimenta um novo sentimento de desespero nas massas. Elas escutaram algo análogo ao que dizemos dez ou quinze anos atrás do Partido Comunista, e elas são pessimistas. Esse é o sentimento geral dos trabalhadores. É a principal razão. Nós não podemos nos retirar da tendência histórica – da constelação de forças geral. A corrente está contra nós, isso é claro. Me recordo de um período entre 1908 e 1913 na Rússia. Também teve uma reação: em 1905 tínhamos trabalhadores conosco – em 1908, e mesmo em 1907, começou uma grande reação.

Todos inventavam slogans e métodos para ganhar as massas e ninguém as ganhava – estavam desesperados. Nesse tempo, a única coisa que podíamos fazer era educar os quadros e eles estavam desaparecendo. Havia uma série de rupturas na direita, na esquerda, no sindicalismo… Lênin permaneceu com um pequeno grupo, uma seita, em Paris, mas com a confiança de que haveria novas possibilidades de um levante. Ele veio em 1913. Nós tínhamos uma nova onda, mas veio uma guerra que interrompeu o seu desenvolvimento. Durante a guerra, houve um silêncio mortal entre os trabalhadores. A conferência de Zimmerwald foi uma conferência de elementos muito confusos em sua maioria. No profundo recesso das massas, nas trincheiras e etc., havia um novo sentimento, mas estava não enterrado e aterrorizado que nós não conseguimos alcançá-lo e fazê-lo se expressar. É por isso que o movimento parecia ser pobre e mesmo essas pessoas que conhecemos em Zimmerwald, na sua maioria, se localizaram à direita no ano seguinte, no mês seguinte. Não vou livrá-los da sua responsabilidade, mas a explicação geral é que o movimento precisava nadar contra a corrente.

Nossa situação hoje é incomparavelmente mais difícil do que qualquer outra organização em outros tempos, porque sofremos a terrível traição da Internacional Comunista, que veio da traição da Segunda Internacional. A degeneração da Terceira Internacional se desenvolveu tão rapidamente e de forma tão inesperada que a mesma geração que viu sua formação hoje nos ouve e responde “mas nós já ouvimos isso antes!”

Então aconteceu a derrota da Oposição de Esquerda na Rússia. A Quarta Internacional é geneticamente ligada à Oposição de Esquerda; as massas nos chamam de Trotskistas. “Trótski deseja tomar o poder, mas porque ele perdeu o poder?” É uma questão elementar. Nós devemos começar a explicar pela dialética da história, pelo conflito de classes, que até mesmo a revolução causa uma reação.

Max Eastman escreveu que Trótski dá muito valor à doutrina e que, se tivesse bom senso, não teria perdido o poder. Para as massas, nada no mundo é mais convincente que o sucesso e nada é mais repelente que a derrota.

Temos também a degeneração da Terceira Internacional por um lado e a terrível derrota da Oposição de Esquerda com a exterminação do grupo inteiro. Esses fatos são um milhão de vezes mais convincentes para a classe trabalhadora do que nosso pobre jornal, com até mesmo a enorme circulação de 5 mil, como o Socialist Appeal.

Estamos num pequeno barco contra uma tremenda corrente. Existem cinco ou dez barcos e um afunda, e nós dizemos que é por conta da má manufatura. Mas essa não é a razão – é porque a corrente está muito forte. É a explicação mais geral e nós nunca devemos esquecer essa explicação para não nos tornarmos pessimistas – nós, a vanguarda da vanguarda. Então esse cenário cria um grupo especial de sujeitos em torno das nossas bandeiras. Existem sujeitos corajosos que não gostam de nadar com a corrente – esse é seu caráter. Existem os sujeitos inteligentes de mau caráter, que nunca se disciplinam, que sempre procuram por tendências mais radicais ou mais independentes e encontram a nossa tendência, mas todos eles são mais ou menos estranhos ao movimento de trabalhadores. Seu valor inevitavelmente tem um lado ruim. Aquele que nada contra a corrente não está conectado com as massas. Além disso, a composição social de todo movimento revolucionário, em seu início, não é de trabalhadores. São os intelectuais, semi-intelectuais, ou trabalhadores ligados aos intelectuais que estão insatisfeitos com as organizações existentes. Encontramos em todo país vários estrangeiros que não se envolvem facilmente no movimento operário nacional. Um tcheco, na América ou no México, se tornaria mais facilmente um membro da Quarta Internacional do que na Tchecoslováquia. O mesmo cabe para franceses nos Estados Unidos. A atmosfera nacional tem um tremendo poder sob os indivíduos.

Os judeus, em muitos países, representam semi-estrangeiros, não totalmente assimilados, e aderem a qualquer tendência política crítica, revolucionária, ou semi-revolucionária, na arte, na literatura e assim em diante. Uma nova tendência radical direcionada contra a corrente geral da história nesse período cristaliza em torno de si elementos mais ou menos separados da vida nacional de qualquer país, e para eles é mais difícil penetrar as massas. Somos muito críticos à composição social da nossa organização e nós devemos mudá-la; mas devemos entender que essa composição social não cai do céu, mas é determinada pela situação objetiva e pela nossa missão histórica nesse momento.

Não significa que devemos nos contentar com a situação. No que concerne à França, existe uma longa tradição no movimento francês conectada com a composição social do país. Especialmente na mentalidade burguesa do passado – com o individualismo de um lado e o élan do outro, uma tremenda capacidade de improvisar.

Se analisarmos o período clássico da Segunda Internacional descobrimos que o Partido Socialista Francês e o Partido Social Democrata Alemão têm o mesmo número de representantes no parlamento. Mas, se compararmos as organizações, descobrimos que elas são incomparáveis. Os franceses podiam coletar apenas 25 mil francos com grande dificuldade, mas, para os alemães, mandar meio milhão não era nada. Os alemães tinham nos sindicatos alguns milhares de trabalhadores, e os franceses tinham alguns milhares que não pagavam taxas. Engels uma vez escreveu uma carta em que caracterizava as organizações francesas e terminava com “e como sempre, o pagamento não chega”.

Nossa organização sofre da mesma doença, a doença tradicional francesa: a incapacidade de organizar e, ao mesmo tempo, nos faltam as condições para improvisações. Até mesmo agora, que tínhamos uma maré na França, era conectada com a Frente Popular. Nessa situação, a derrota da Frente Popular foi a prova da exatidão das nossas concepções, assim como a exterminação dos trabalhadores chineses. Mas essa derrota foi uma derrota, e é direcionada contra as tendências revolucionárias até que uma nova maré, de maior escala, apareça em um novo tempo. Nós devemos esperar e preparar – um novo elemento, um novo fator nessa constelação.

Temos camaradas que vieram até nós como Naville e outros, quinze, dezesseis ou mais anos atrás, quando eram jovens rapazes. Agora eles são pessoas maduras e em toda a sua vida consciente eles sofreram golpes, derrotas, terríveis derrotas, a nível internacional, e eles estão mais do que acostumados com essa situação. Eles apreciam muito a exatidão das nossas concepções e podem fazer análises, mas nunca tiveram a capacidade de penetrar, de atuar com as massas, e eles não a adquiriram. Existe uma tremenda necessidade de olhar o que as massas estão fazendo. Nós temos essas pessoas na França. Sei menos sobre a situação britânica, mas acredito que temos essas pessoas lá também.

Perdemos pessoas? Depois de terríveis derrotas internacionais, tivemos na França um movimento em um nível muito primitivo e pouco político, sob a liderança da Frente Popular. A Frente – acredito que todo esse período – é um tipo de caricatura da nossa Revolução de Fevereiro. É vergonhoso que o movimento dos trabalhadores de um país como a França, que há 150 anos passou pela maior revolução burguesa do mundo, passe por uma caricatura da Revolução Russa.

JAMES: Você não colocaria toda a responsabilidade no Partido Comunista?

TRÓTSKI: É um grande fator na produção da mentalidade das massas; o fator ativo foi a degeneração do Partido Comunista.

Em 1914, os bolcheviques estavam absolutamente dominando o movimento dos trabalhadores. Foi o limiar da guerra. As estatísticas exatas mostram que os bolcheviques representavam não menos que ¾ da vanguarda proletária. Mas, começando com a Revolução de Fevereiro, as pessoas da retaguarda – camponeses, soldados e até trabalhadores bolcheviques – eram atraídos para a corrente da Frente Popular e o Partido Bolchvique se tornou isolado e muito fraco. A tendência geral estava em um nível fraco, mas poderoso, que movia em direção a Revolução de Outubro. É uma questão de tempo. Na França, após todas essas derrotas, a Frente Popular atraiu elementos que simpatizavam conosco teoricamente, mas eram envolvidos no movimento de massas e se tornaram, por um tempo, mais isolados do que antes. Podemos combinar todos esses elementos. Posso até confirmar que muitos, mas não todos, de nossos camaradas dirigentes, especialmente nas seções mais antigas, seriam rejeitados pelo movimento revolucionário das massas numa mudança de situação, e novos líderes, líderes novos, irão surgir na corrente revolucionária.

Na França, a regeneração começou com a entrada no Partido Socialista. A política do Partido Socialista não era clara, mas ganhou muitos novos membros. Esses novos membros eram acostumados com um amplo ambiente: depois da ruptura, ficaram um pouco desencorajados. Não estavam tão fortalecidos. Então perderam sua falta de interesse por estarem preparados e foram ganhos novamente pela tendência da Frente Popular. É lamentável, mas explicável.

Na Espanha os mesmos motivos cumpriram os mesmos papéis, com o fator adicional da deplorável conduta do grupo de Nin. Ele estava na Espanha como um representante da Oposição de Esquerda da Rússia, e durante o primeiro ano não tentava mobilizar ou organizar nossos elementos independentes. Nós esperávamos que ganharíamos Nin para a concepção correta. Publicamente, a Oposição de Esquerda deu a ele o seu apoio. Nas nossas correspondências privadas, tentamos ganhá-lo e pressioná-lo a avançar, mas sem sucesso. Perdemos tempo. Foi correto? É difícil dizer.

Na Espanha, se tivéssemos um camarada experiente, nossa situação seria incomparavelmente mais favorável, mas nós não tínhamos um. Colocamos todas as nossas esperanças em Nin, e a sua política consistia em fazer manobras individuais para evitar responsabilidade. Ele brincou com a revolução. Era sincero, mas a sua mentalidade era menchevique. Era uma tremenda debilidade, e lutar contra essa debilidade apenas com as formulações corretas apenas falsificada pelos nossos próprios representantes nesse primeiro período, os Nins, fez essa luta muito difícil.

Não esqueçam que perdemos a revolução de 1905. Antes da primeira revolução, tínhamos a tradição de grande coragem, sacríficio, etc. Então fomos empurrados de volta para a posição de uma miserável minoria de 30 ou 40 homens. E então veio a guerra.

JAMES: Quantos haviam no Partido Bolchevique?

TRÓTSKI: Em 1910, em todo o país, haviam cerca de uma dúzia de pessoas. Algumas estavam na Sibéria. Mas não eram organizadas. As pessoas que Lenin se comunicava por correspondência ou por meio de um agente totalizavam 30 ou 40 no máximo. Entretanto, a tradição e as ideias entre os trabalhadores mais avançados era um tremendo capital, o que foi usado mais tarde durante a Revolução, mas praticamente, neste momento, estamos absolutamente isolados.

Sim, a história tem suas próprias leis, que são muito poderosas – mais poderosas que as nossas concepções teóricas sobre a história. Agora temos uma catástrofe na Europa – o declínio da Europa, a exterminação de países. É uma tremenda influência sobre os trabalhadores quando estes observam esses movimentos de diplomacia, de exércitos, etc., e, do outro lado, um pequeno grupo com um pequeno jornal que fazem explicações. Mas é uma questão de ele se mobilizar amanhã e seus filhos serem mortos. É uma desproporção entre a tarefa e os meios.

Se a guerra começar agora, e parece que irá, então no primeiro mês perderemos ⅔ do que temos agora na França. Eles serão dispersados. São jovens e irão se mobilizar. Subjetivamente, muitos se manterão fiéis ao movimento. Aqueles que não forem presos e aqueles que se manterão – podem ser 3 ou 5 – não sei quantos, mas eles estarão completamente isolados.

Apenas alguns meses depois o criticismo e o nojo se mostrarão em larga escala e, em todo lugar, nossos camaradas isolados – no hospital, nas trincheiras, uma mulher na vila – encontrarão uma atmosfera mudada e dirão uma palavra corajosa. E o mesmo camarada que era desconhecido em alguma seção de Paris se tornará líder de um regimento, de uma divisão, e se tornará um poderoso líder revolucionário. Essa mudança é o cerne do nosso tempo.

Não quero dizer que devemos nos conciliar com a impotência da nossa seção francesa. Acredito que, com a ajuda de nossos camaradas americanos, podemos ganhar o PSOP e dar um grande passo à frente. A situação faz amadurecer e nos diz: “você deve utilizar essa oportunidade”. E se nossos camaradas virarem as costas a situação irá mudar. É absolutamente necessário que nossos camaradas americanos vão à Europa novamente e tentem não apenas dar conselhos, mas, juntos com o Secretariado Internacional, decidir que nossa seção deve entrar no PSOP. Ele tem alguns milhares. Do ponto de vista de uma revolução, não é uma diferença grande, mas do ponto de vista do trabalho é uma tremenda diferença. Com novos elementos podemos dar um grande salto adiante.

Agora, nos Estados Unidos, temos um novo caráter no nosso trabalho, e acredito que podemos ser otimistas sem ter ilusões e sem exagerarmos. Nos Estados Unidos temos um grande crédito de tempo: a situação não é tão imediata, tão aguda. Isso é importante.

Concordo com o camarada Stanley que escreve que agora podemos ter um acesso importante aos países coloniais e semicoloniais. Temos um movimento importante na Indochina. Concordo plenamente com o camarada James que temos um Movimento Negro importante, porque essas pessoas não passaram pela história das últimas duas décadas de forma tão íntima: enquanto massas, elas não sabiam sobre a Revolução Russa e a Terceira Internacional. Elas podem começar a história como do começo. É muito importante para nós que tenhamos sangue fresco. É por isso que temos mais sucesso entre a juventude. Na medida em que fomos capazes de nos aproximar deles, tivemos bons resultados. Eles são muito atentos a um programa revolucionário claro e honesto.

A Grande Britânia e o ILP? É também uma tarefa especial. Acompanhei de perto por um momento quando estava na Noruega. Me parece que nossos camaradas que entraram no ILP tiveram a mesma experiência que nossos camaradas americanos que entraram no Partido Socialista. Mas não foram todos os nossos camaradas que entraram no ILP, e eles desenvolveram uma política oportunista, pelo que pude observar, e é por isso que nossa experiência no ILP não foi tão boa. O ILP se manteve quase como era antes, enquanto o Partido Socialista agora está vazio. Não sei como abordar essa questão agora. Agora é uma organização de Glasgow. É uma máquina local e eles têm influência na máquina municipal, e ouvi que é muito corrupta. É uma função separada de Maxton.

Rebeliões de base são familiares para o ILP. Na preparação de uma nova convenção, Fenner Brockway se torna um patrão de seções rebeldes e assegura a maioridade. Então Maxton diz que irá se demitir. Fenner Brockway diz: “não, iremos abandonar nossa vitória. Podemos abandonar nossos princípios, mas não nosso Maxton”. Acredito que a coisa mais importante é comprometê-los – colocá-los na lama -, os Maxtons e os Brockways. Devemos identificá-los como nossos inimigos de classe. Devemos comprometer o ILP com tremendos e impiedosos ataques à Maxton. Ele é o bode expiatório por todos os pecados do movimento britânico e especialmente do ILP. Com ataques sistemáticos na nossa imprensa concentrados à Maxton, podemos acelerar a ruptura no ILP. Ao mesmo tempo, devemos apontar que Maxton é lacaio de Chamberlain, e Fenner Brockway o lacaio de Maxton.

JAMES: O que você acha de um jornal independente para a função de golpear Maxton e etc.?

TRÓTSKI: É uma questão prática. Na França, se nossa seção entrar no PSOP, acredito que o Secretariado Internacional deveria publicar o Quatrième Internacionale para todos os países que falam francês, duas vezes por mês. É uma simples questão de possibilidade jurídica. Acredito que mesmo que atuemos dentro do Partido Trabalhista, devemos ter um jornal independente, não em oposição aos camaradas que estão dentro dele, mas sim para que esteja fora do controle do ILP.

Abril de 1939.

Sobre a história da Oposição de Esquerda

TRÓTSKI: O camarada James estudou esse assunto com a maior das atenções e as numerosas anotações que fiz são evidências do cuidado com que li esse memorando. É importante para nossos camaradas ver nosso passado com insistência na clareza revolucionária. Em partes, o manuscrito é muito perspicaz, mas notei uma falha que também notei em World Revolution – um ótimo livro – e ela é a falta de uma abordagem dialética, um empirismo anglo-saxão e um formalismo que é apenas o reverso do empirismo.

C.L.R. James faz toda a sua abordagem depender de uma data – a aparição da teoria do socialismo em um só país de Stálin -, abril de 1924. Mas a teoria apareceu em Outubro de 1924. Isso faz toda a estrutura falsa.

Em abril de 1924, não era claro se a Revolução Alemã iria avançar ou retroceder. Em novembro de 1923, pedi que todos os camaradas russos na Alemanha fossem retirados. Novas camadas podem elevar a revolução a um estágio superior. Por outro lado, a revolução poderia decair. Se decaísse, o primeiro passo da reação seria prender os russos como agentes estrangeiros da desordem. Stálin se opôs: “você é sempre muito apressado. Em agosto você disse que a revolução estava próxima; agora diz que já está acabada”. Eu não disse que estava acabada, mas sugeri que essa precaução deveria ser tomada. No verão de 1924, Stálin convenceu a si mesmo que a Revolução Alemã estava derrotada. Então pediu aos professores vermelhos para achar algo de Lênin para dizer ao povo. Eles procuraram e encontraram três ou quatro citações e Stálin mudou o trecho em seu livro. A Revolução Alemã tinha maior influência sobre Stálin do que Stálin sobre a Revolução Alemã. Em 1923, todo o partido estava em fervo por uma revolução que estava por vir. Stálin não teria se atrevido a me opor nessa questão no Comitê Central. A Oposição de Esquerda estava em destaque nessa questão.

JAMES: Brandler foi à Moscou convencido do sucesso da revolução. O que mudou sua opinião?

TRÓTSKI: Tive muitas entrevistas com Bandler. Ele me disse que o que o preocupava não era a tomada do poder, mas o que fazer depois. Eu disse a ele: “olhe, Bandler, você diz que as perspectivas são boas, mas a burguesia está no poder, controlando o Estado, o exército, a polícia, etc. A questão é quebrar esse poder…” Brandler tomou muitas notas durante nossas muitas discussões. Mas essa sua ousadia era apenas um disfarce para seus medos secretos. Ele foi à Chemnitz e se encontrou com muitos líderes da Social Democracia, uma coleção de mini Brandlers. Ele comunicou a eles, em seu discurso, seus medos secretos pela própria maneira como falou com eles. Naturalmente, eles se retiraram e o sentimento de derrota permeou os trabalhadores.

Na Revolução de 1905, havia uma disputa no soviet, se deveríamos desafiar o poder tsarista com uma demonstração no aniversário do Domingo Sangrento. Até hoje, não sei ao certo se era a coisa certa a se fazer ou não. O comitê não conseguia se decidir, então consultamos o soviet. Fiz um discurso, colocando duas alternativas de maneira objetiva, e o soviet decidiu, com uma maioria esmagadora, não fazer essa demonstração. Mas estou certo de que, se eu tivesse dito que era necessário essa demonstração e exposto dessa maneira, nós teríamos a grande maioria a favor. O que era preciso na Alemanha em 1923 era um partido revolucionário…

Me acusa também de degeneração quando cita Fischer. Mas por que eu dei aquela entrevista? Em uma revolução, é sempre sábio jogar a responsabilidade para o inimigo. Em 1917, me perguntavam no soviet: “Os bolcheviques estão preparando uma insurreição?” O que eu poderia dizer? Disse “não, estamos defendendo a revolução, mas se nos provocarem…!” Foi a mesma coisa aqui. A Polônia e a França estavam usando os bolcheviques russos como um pretexto para preparar uma intervenção e a reação. Com o consenso dos camaradas alemães, eu dei essa entrevista, enquanto os camaradas da Alemanha explicavam a situação para os trabalhadores alemães. Ao mesmo tempo, tinha uma cavalaria debaixo de Dybenko pronto na fronteira polonesa.

JAMES: Você não concordava com Victor Serge que a burocracia havia sabotado a revolução Chinesa; em outras palavras, essa atitude com a Revolução Chinesa foi a mesma com a Revolução Espanhola?

TRÓTSKI: Nem um pouco. Por que eu a sabotaria? Eu estava no comitê (com Chicherin, Voroshilov e outros) na Revolução Chinesa. Eles se opunham à minha atitude, que consideravam pessimista. Eles estavam ansiosos pelo seu sucesso.

JAMES: Pelo sucesso da revolução democrática burguesa. A oposição deles à revolução proletária não era a oposição de uma burocracia que estava bastante preparada para apoiar uma revolução democrático-burguesa, mas que, por ser uma burocracia, não podia apoiar uma revolução proletária?

TRÓTSKI: Formalismo. Nós tínhamos o maior partido revolucionário do mundo em 1917. Em 1936 ele estrangulou a revolução na Espanha. Como isso se desenvolveu de 1917 à 1936? Essa é a questão. De acordo com o seu argumento, a degeneração teria começado em outubro de 1917. Na minha visão, começou nos primeiros anos da Nova Política Econômica. Mas mesmo em 1927, todo o partido estava ansiosamente esperando o desfecho da Revolução Chinesa. O que aconteceu foi que a burocracia adquiriu certos hábitos burocráticos de pensamento. Propôs a restrição dos camponeses para não assustar os generais. Pensaram que pressionariam a burguesia à esquerda. Viram o Kuomintang como um corpo de oficiais e pensaram que isso colocaria os comunistas em cargos e isso mudaria a direção dos eventos… e como você consideraria a mudança que exigiu a Comuna de Cantão?

JAMES: Victor Serge diz que foi apenas pelo bem do Sixth World Congress que eles queriam a Comuna, “mesmo que por apenas 15 minutos”.

TRÓTSKI: Foi mais pelo partido, internamente, do que pela Internacional. O partido estava animado com a Revolução Chinesa. Apenas em 1923 atingiu um maior grau de intensidade.

Não, você quer começar com a degeneração completa. Stálin e Company genuinamente acreditavam que a Revolução Chinesa era uma revolução democrática burguesa, e buscavam estabelecer a ditadura do proletariado e do campesinato.

JAMES: Você quer dizer que Stálin, Bukharin, Tomsky, Rykov e o resto não entendiam o curso da Revolução Russa.

TRÓTSKI: Eles não entendiam. O curso dos eventos os dominaram. A sua posição sobre a China era a mesma que tinham em março de 1917 quando Lenin veio. Em diversos dos seus escritos você vê que eles nunca entenderam. Uma forma diferente de existência: seus hábitos burocráticos afetou seus pensamentos e eles voltaram para a sua posição anterior. Eles até a consagraram no programa da Comintern: a revolução proletária para a Alemanha, a ditadura do proletariado e do campesinato em países semicoloniais, etc. [Trótski pede a Van para pegar uma cópia do Programa de Transição e o extrato é lido em voz alta]. Eu condenei isso em minha crítica do Programa de Transição.

JAMES: E o pronunciamento de Bukharin em 1925 que, se a guerra viesse, os revolucionários deveriam apoiar o bloco da burguesia soviética?

TRÓTSKI: Depois do testamento de Lênin, Bukharin queria mostrar que ele era um verdadeiro dialético. Ele estudou Hegel e em toda oportunidade tentava mostrar que era um realista. Dizia “se enriqueçam”, “socialismo a passos de formiga”, etc. E não apenas Bukharin, mas eu e todos nós escrevíamos coisas absurdas de tempos em tempos. Te garanto isso.

JAMES: E a Alemanha entre 1930 e 1933?

TRÓTSKI: Não consigo concordar que a política da Internacional era apenas a materialização dos comandos de Moscou. É necessário ver a política como um todo, do ponto de vista interno e internacional, de todos os lados. A política internacional de Moscou e a orientação da Social Democracia de Geneva poderiam cumprir um papel. Mas havia também a necessidade de uma mudança, graças ao desastroso efeito da política anterior do partido na Rússia. Depois que toda a burocracia estava lidando com 160 milhões de pessoas que haviam passado por três revoluções. O que eles estão dizendo e pensando é confidencial. Stálin queria mostrar que ele não era nenhum menchevique. Por isso essa violenta guinada à esquerda. Devemos ver a totalidade, em todos seus aspectos.

JAMES: Mas o stalinista britânico, Campbell, escreve que quando a delegação britânica, em 1928, apresentaram a teoria do social fascism ele se opôs à ideia, mas depois foi convencido que ela estava correta…

[Foi acordado de seguir a discussão. Durante o intervalo, James submeteu um documento].

TRÓTSKI: Eu li seu documento clamando por uma posição clarificada, mas isso não a clarifica. Você afirma que aceita minha visão de 1923, mas mais tarde, no documento, vejo que não a aceitou realmente… Acho estranho que na questão negra você seja realista e sobre isso seja tão anti dialético. (Acredito que você seja um pouco oportunista na questão negra, mas ainda não tenho certeza).

Em 1924, o slogan de Stálin (socialismo em um só país), correspondia ao sentimento de jovens intelectuais sem treinamento, sem tradição.

Mas apesar disso, quando Stálin queria estrangular a Revolução Espanhola abertamente, ele teve que se livrar de milhares de bolcheviques. A primeira batalha começou com a revolução permanente, com a burocracia procurando paz e tranquilidade. Então veio a Revolução Alemã em 1923. Stálin não se atrevia a se opor a mim abertamente. Nós nunca sabíamos até que, secretamente, ele escrevia uma carta a Bukharin dizendo que a revolução deveria ser contida. Depois da derrota alemã, veio a batalha pela igualdade. Foi em defesa dos privilégios da burocracia que Stálin se tornou seu líder…

A Rússia era um país às avessas. Esses líderes tinham concepções marxistas, mas depois de Outubro eles logo retornaram às suas velhas ideias. Voroshilov e os outros me perguntavam: “mas como você acha que é possível que as massas chinesas, tão atrasadas, poderiam estabelecer uma ditadura do proletariado?”

Na Alemanha, eles esperavam que um milagre iria quebrar a Social Democracia; sua política havia falhado em afastar as massas dela. Por isso essa nova tentativa de se livrar dela… Stálin esperava que o Partido Comunista Alemão iria ganhar, e pensar que ele tinha um “plano” para permitir que o facismo viesse ao poder é um absurdo. É um endeusamento de Stálin.

JAMES: Ele fez cessar a oposição no Red Referendum; fez Remmele dizer, “depois de Hitler é nossa vez”; ele os fez parar de lutar com os fascistas nas ruas.

TRÓTSKI: “Depois de Hitler é nossa vez” era uma gabação, uma confissão da sua falência. Você dá muita atenção a isso.

SCHUESSLER: Eles pararam de lutar nas ruas porque o seu destacamento era um pequeno CP. Bons camaradas estavam sendo constantemente baleados, e enquanto os trabalhadores enquanto um todo não estavam tomando parte nisso, eles se retiraram. Foi parte dos seus zigzags.

TRÓTSKI: Aí está! Eles faziam todo tipo de coisa. Eles até ofereciam o front às vezes.

JAMES: Duranty [correspondente do New York Times em Moscou] disse que em 1931 eles não queriam a revolução na Espanha.

TRÓTSKI: Não aceite como verdade o que Duranty diz. Litvinov queria dizer que eles não eram responsáveis pelo que estava acontecendo na Espanha. Ele não podia dizer por si só, então disse através de Duranty. Talvez eles não queriam ser incomodados com a questão da Espanha, com as dificuldades que passavam em casa… Mas eu diria que Stálin sinceramente buscava o triunfo do Partido Comunista Alemão em 1930-1933…

Além disso, você não pode pensar que o Comintern era como um mero instrumento da política externa de Stálin. Na França, em 1934, o Partido Comunista diminuiu de 80 mil para 30 mil. Era necessário uma nova política. Nós não sabemos os arquivos internos da Comintern, que correspondências estavam caminhando, etc. Ao mesmo tempo, Stálin buscava uma nova política externa. Por um lado e pelo outro nós temos essas tendências que produzem novas mudanças. Elas são faces do mesmo processo… O Partido Comunista Francês não é uma agência de Moscou, mas uma organização nacional com membros no parlamento, etc.

Tudo isso, entretanto, não é muito perigoso, mesmo que mostre uma grande desproporção ao dizer que toda a propaganda era inútil. Se isso é verdade, estamos falidos. O que é muito mais perigoso é o secretariado se aproximando do Partido Trabalhista.

Você diz que eu coloquei à frente o slogan de Blum-Cachin sem reservas. Então você lembra, “Todo poder ao soviet!” e você diz que o front unido não era um soviet. É a mesma abordagem sectária.

JAMES: Nós tivemos dificuldades na Inglaterra de reivindicar um governo Labour com as reservas necessárias.

TRÓTSKI: Na França, com toda a nossa imprensa, nos nossos arquivos e na nossa propaganda, frequentemente fazemos as reservas necessárias. Sua falha na Inglaterra é devido a sua falta de habilidade; também falta de flexibilidade, graças à longa dominação burguesa na Inglaterra. Eu diria aos trabalhadores ingleses “vocês se recusam a aceitar meu ponto de vista. Bom, talvez eu não tenha explicado bem o suficiente. Talvez vocês sejam estúpidos. De qualquer forma, eu falhei. Mas agora, você acredita no seu partido. Por que permitir que Chamberlain fique no poder? Coloque seu partido no poder. Eu ajudarei no que puder. Eu sei que eles não irão fazer o que você acha, mas enquanto você não acreditar em mim e enquanto formos pequenos, eu o ajudarei a colocá-los no poder.” Mas é muito importante trazer essas questões de forma periódica. Eu sugiro que você escreva um artigo discutindo esses pontos e publique no nosso jornal. [James concordou que iria].

Abril de 1939.

 

NOTAS

 

1. Nota do autor: Em 12 de abril de 1927, três semanas antes do levante dos trabalhadores de Shangai, Chiang Kai-shek ordenou um massacre que assassinou dezenas de milhares.

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