Revista Casa Marx

Guerra comercial, episódio 2: rumo a um desacoplamento definitivo entre China e EUA?

Esteban Mercatante

Nem os multilateralistas Obama e Biden – apostando em amplas alianças – nem o unilateralista Trump conseguiram frear o enfraquecimento do poder dos EUA, tampouco impedir os avanços da China. Trump pode amplificar o caos sistêmico, que é o fenômeno preexistente que explica seu retorno à presidência dos EUA, mas não está em suas mãos reverter esse curso declinante. Isso prenuncia, mesmo que haja algum armistício temporário, que os choques pela reconfiguração da ordem mundial continuarão sendo cada vez mais violentos.

Apenas algumas horas após entrarem em vigor as tarifas recíprocas anunciadas em 2 de abril para vendas de outros países aos EUA, o presidente Donald Trump anunciou sua suspensão por 90 dias para todos os países que evitaram medidas retaliatórias. Eles continuarão sujeitos à tarifa geral de 10%, que também foi introduzida em 2 de abril, mas abre-se um prazo para negociar condições comerciais que reduzam os impostos. O único país não contemplado com esse alívio é a China. O motivo alegado por Trump na mensagem em que anunciou, de forma surpreendente, a medida é que, ao contrário dos países que mostraram disposição para negociar com os EUA, o governo de Xi Jinping respondeu aplicando suas próprias tarifas. As quais, por sua vez, foram respondidas com novas tarifas retaliatórias por parte do governo dos EUA, replicadas novamente pela China. Esse argumento omite o fato de que a União Europeia também anunciou a aplicação de tarifas contra produtos provenientes dos EUA, embora seja verdade que, ao mesmo tempo, manifestou a intenção de alcançar um acordo de tarifa zero.

No final daquela semana, as tarifas aplicadas pelos EUA às importações da China estavam em 145%, e as impostas pela China aos produtos dos EUA, em 125%. Isso significa que os valores das tarifas serão, para todos os produtos comercializados entre esses países, muito superiores ao próprio valor das mercadorias. Uma situação de ruptura virtual do intercâmbio bilateral. No meio disso, surgem também exceções, como a que permitiu no sábado a importação sem tarifas de iPhones, outros telefones e produtos eletrônicos provenientes da China.

Cálculo ou recuo desordenado?

A guinada de Trump ocorreu após uma semana de intensificação do descontrole financeiro. As quedas no valor dos ativos financeiros já vinham ocorrendo há mais de um mês, mas se transformaram em colapso quando Trump confirmou em 2 de abril medidas protecionistas mais duras do que o esperado.

Os mesmos assessores que, ainda na terça-feira, afirmavam que Trump não voltaria atrás nas tarifas porque elas eram um pilar fundamental de sua política econômica, na quarta-feira saíram para dizer que era completamente lógico adiá-las para abrir uma fase de negociação com os países que se abstiveram de retaliar. Nesse argumento, além de um esforço dos subordinados do magnata para se adaptarem às decisões imprevisíveis de seu chefe, há uma tentativa de mascarar o que pode ser considerado basicamente como um recuo. Trump havia afirmado repetidamente que não mudaria suas decisões econômicas diante da instabilidade dos mercados, pois o objetivo delas era provocar um ressurgimento da indústria nos EUA. Mas foi exatamente isso que ele fez.

A pressão sobre o presidente norte-americano para rever sua política comercial veio de várias frentes. Em primeiro lugar, dos bilionários americanos, muitos dos quais financiaram a campanha eleitoral de Trump, que expressaram sua frustração com a destruição de seu patrimônio devido ao caos financeiro, e também pela inviabilidade que as tarifas criavam para seus negócios globais.

O sinal de alerta dado pela cotação dos títulos da dívida dos EUA também aparece como um dos motivos importantes para reverter, ao menos temporariamente, as restrições comerciais. O habitual em tempos de incerteza financeira é que os investidores internacionais busquem refúgio em ativos seguros, como os títulos emitidos pelo Tesouro dos EUA. Isso aumenta sua demanda e, consequentemente, suas cotações. Com isso, as taxas de juros efetivas que o Tesouro paga para se endividar permanecem baixas, o que oferece margem de manobra para lidar com os déficits fiscais e não se preocupar com o financiamento. O fato de, dessa vez, ter ocorrido o contrário — uma queda no preço dos títulos que levou a um aumento da taxa — preocupou o governo.

Além das consequências para a dívida pública, essa desvalorização dos títulos se transformava numa ameaça para todo o sistema financeiro. Como observa a revista The Economist, “a quebra simultânea de ativos arriscados e supostamente seguros ameaçou desestabilizar o próprio sistema financeiro”. Trump já vinha pressionando o Federal Reserve (o banco central dos EUA) para reagir às turbulências reduzindo as taxas de juros e injetando liquidez, mas o presidente da instituição, Jerome Powell, não deu sinais de que isso aconteceria em breve, dada a preocupação com o aumento das expectativas de inflação. Assim, o incendiário presidente foi obrigado a agir como bombeiro, interrompendo suas próprias medidas.

A arte do desacordo

Trump se considera — e se apresenta — como um grande negociador. Essa imagem já era promovida em seu livro de 1987 Trump: the Art of the Deal (lançado em espanhol como Trump o el arte de vender). A lógica descrita ali não difere muito da que ele aplicou como presidente entre 2017 e 2020 e que está colocando em prática novamente agora. Fazer propostas, lançar ameaças, abandonar a mesa de negociação para depois retornar com contrapropostas em busca de mais vantagens para seus próprios interesses fazem parte desse manual. O anúncio de tarifas para todos os países, seguido da retirada dessas tarifas para todos — exceto um — por 90 dias se encaixa perfeitamente nesse esquema.

No entanto, ter demonstrado que, quando as apostas são altas e a incerteza elevada, ele recua — como fez nesta quarta-feira — prejudica a credibilidade de seus discursos e enfraquece sua posição nas negociações. Isso se torna mais um motivo para que, mesmo que rodadas de negociações sejam abertas nesses 90 dias, os representantes de outros países participem delas com desconfiança. Como alerta novamente a The Economist:

Seus objetivos aparentes de obter concessões de outros países e repatriar empregos industriais se contradizem. Se as tarifas forem reduzidas, a repatriação não ocorrerá. Porém, se seus parceiros comerciais suspeitam que ele está comprometido com o protecionismo, por que ofereceriam concessões? E mesmo que todas as tarifas sejam desmontadas, a lembrança do “Dia da Libertação” permanecerá viva na mente de qualquer empresa que construa uma cadeia de suprimentos.

Também não ajuda a credibilidade de Trump o fato de que seu repúdio a acordos considerados prejudiciais aos EUA se estenda a tratados como o T-MEC, assinado durante sua própria administração anterior.

Empresas e governos ao redor do mundo irão ponderar entre a frágil credibilidade de Trump e o apelo do mercado norte-americano para definir o grau das concessões que estão dispostos a fazer para aplacar um parceiro cada vez menos confiável — e cujos objetivos ainda não estão claramente definidos.

A batalha “até o fim”

A guerra comercial 2.0 entrou agora em uma nova fase, com os dois principais participantes sendo as maiores economias do mundo. Não faltam vozes que defendem a hipótese de que esse sempre foi o objetivo desde o início.

O historiador Adam Tooze, observando a concentração do conflito na China, sugere uma possível sequência de decisões por parte de Trump e sua equipe, que poderia ter sido mais ou menos assim:

“Certo. Vamos sacudir as coisas um pouco. Aplicar tarifas a todos. Números impressionantes. Números belíssimos. Isso vai desestabilizar o jogo. Vamos ver como reagem.”
“Recompensar quem não resistir?”
“Bom, fiquem com 10%. Continuamos conversando. Mas sim… premiar quem não reagir.”
“Ok. Então, se dividirmos o mundo entre o ‘time que desafia’ e o ‘time que cumpre’, quem sabemos que é menos provável de recuar? Quem vai retaliar?”
“China e talvez a UE. Mas China, com certeza.”
“Então estamos numa verdadeira guerra comercial? Com a China? E talvez com a Europa?”
“Você fala isso como se fosse algo ruim! Acabou o ‘quintal pequeno com cerca alta’. Agora é desacoplamento de verdade.”
“Ou eles se rendem?”
“Ou conseguimos um acordo muito importante?”

Embora a atitude de Trump nos últimos dias pareça mais uma retirada, não se pode descartar totalmente que algo nessa linha — que também é consistente com “a arte do acordo” — esteja guiando seus passos. Um motivo não necessariamente contradiz o outro. Como afirma Tooze: “O desfecho extraordinário de quarta-feira se deveu, sem dúvida, às reações do mercado e ao que Trump chamou de ‘agitação do povo’. Mas, de fato, teve certa lógica: sacudir o mundo, isolar e expulsar a China.” A afirmação de Trump de que “a China jogou mal” ao responder com mais tarifas reforça a ideia de que o resultado — mesmo que não tenha sido um plano meticulosamente previsto — se encaixa bem na estratégia do governo norte-americano. Tooze conclui que: “No ambiente frenético da Ala Oeste, a política comercial e a política anti-China convergiram […] Há tempos nos perguntamos qual é a política de Trump para a China. Aqui está a resposta.” 

Agora, após a “errada” resposta chinesa, os EUA podem, ao negociar com o resto do mundo, firmar acordos que isolem a China. Uma espécie de versão trumpista dos acordos Transatlântico e Transpacífico idealizados durante o governo Obama — que, neste caso, não passam por uma nova rodada de negociação multilateral em prol do livre comércio, mas sim por tratativas bilaterais entre todos os países e a grande potência da América do Norte.

Para onde as coisas podem caminhar agora? A escalada tarifária continuará indefinidamente, culminando no desacoplamento violento das duas economias (não há outra coisa que se possa esperar com tarifas acima de 100%)? Ou será, como em 2018, quando Trump lançou sua primeira guerra comercial contra a China, a antesala de negociações para acalmar os ânimos? Tudo está em aberto por enquanto, mas o caminho eventual para um armistício parece sinuoso e longo. A China prometeu “lutar até o fim” — e mostra-se menos disposta que em 2018 a fazer concessões aos métodos de Trump.

Se os mercados comemoraram na quarta-feira subindo freneticamente após os anúncios de Trump, não demorou para que a incerteza e a instabilidade voltassem. É que, embora agora “seja só com a China”, isso não acalma muito as preocupações. Para empresas como a Apple, um desacoplamento entre as duas economias seria economicamente desastroso. Para Musk, estrela do governo Trump, a situação também não é muito melhor. Sua empresa, a Tesla, depende fundamentalmente da manufatura chinesa para se manter competitiva — ainda mais agora que os fabricantes de automóveis chineses vêm tomando, cada vez mais, fatias do mercado global.

Como apontou à agência Bloomberg Olu Sonola, chefe de pesquisa econômica dos EUA na Fitch Ratings, bens de capital e intermediários representam cerca de 43% das importações totais da China. Isso significa que “existe a possibilidade perversa de que, se esses bens não entrarem nos Estados Unidos, a manufatura no país possa desacelerar, resultando em perda de empregos no curto prazo”.

A interrupção dos fluxos entre o maior mercado consumidor do mundo, os EUA, e a maior oficina de manufatura global, a China, afetará todos os países e sacudirá a economia global quase tanto quanto as tarifas generalizadas que Trump suspendeu na quarta-feira. Na medida em que a dinâmica de desacoplamento se imponha, os demais países terão que avaliar qual prioridade dar a cada um dos polos, pois poderão ser forçados a escolher — sob pena de sofrer novamente a fúria das barreiras comerciais de Trump ou o cerco da China.

Uma China desconectada dos EUA representa, ainda, uma grande ameaça aos capitais concorrentes de outros países. Há tempos eles vêm sofrendo com os fabricantes chineses, que contam com vantagens abismais de custo em quase todos os setores, e vêm conquistando fatias de mercado. A situação pode piorar muito se a China precisar encontrar novos destinos para as mercadorias que não puder mais vender aos EUA — destino que, até agora, representa a maior parte de suas exportações. Isso levará outros países, mesmo que não concordem com o neomercantilismo protecionista de Trump, a também imporem tarifas para evitar uma avalanche de produtos chineses?

A ideia, promovida por defensores da ordem globalizada, de que o restante do mundo pode dar uma lição a Trump e seguir integrado — já que, mesmo sem os EUA, representam 85% do comércio mundial — pode acabar caindo por terra diante desses riscos. O giro trumpista pode gerar réplicas poderosas que acabem mudando completamente a ordem econômica global que conhecemos nas últimas décadas.

“É provável que vejamos uma queda significativa na demanda por contêineres em direção aos EUA no curto prazo — e, possivelmente, também no ecossistema manufatureiro intra-asiático”, estima Judah Levine, chefe de pesquisa do Freightos Group, uma plataforma líder em reservas de carga aérea.

Conheça seu inimigo e conheça a si mesmo

Não está claro até que ponto Trump e seus assessores levaram em conta este famoso ensinamento da arte da guerra, atribuída a Sun Tzu. Tudo indica que subestimaram a capacidade dos EUA de chacoalhar o tabuleiro e arrancar concessões do mundo todo — algo que iremos entender melhor nos próximos 90 dias. Mas também podem estar confiando demais nos recursos que têm para isolar a China. A essa superestimação da própria força soma-se uma subestimação — e desconhecimento — do que o adversário vem fazendo.

A liderança chinesa foi pega de surpresa em 2018, mas desta vez, diante dos sinais antecipados de Trump durante sua campanha — de que estaria disposto a ir além do que fez em seu mandato anterior — teve tempo para “elaborar contramedidas que causem o máximo de dor econômica aos Estados Unidos”.

Em um estudo divulgado na última semana, Evan S. Medeiros e Andrew Polk alertam para a forma como a China aprimorou suas armas econômicas em preparação para o confronto. Eles destacam que:

A capacidade da China de formular políticas econômicas — em especial suas ferramentas de coerção — se expandiu. Antes, o país usava principalmente incentivos e sanções comerciais ou de investimento. Hoje, desenvolve, testa e implementa um novo conjunto de ferramentas legais e regulatórias com o propósito explícito de impor custos específicos a empresas e países que considere agir contra seus interesses. Na prática, trata-se de munições econômicas de precisão, projetadas para causar danos específicos — e muitas vezes consideráveis — com fins políticos e geopolíticos.

Entre essas ferramentas estão a lista de entidades não confiáveis (UEL, na sigla em inglês) e a lista de controle de exportações. Ambos os registros foram utilizados para impedir ou restringir severamente a capacidade das empresas listadas de operar na China. Na última semana, 6 empresas americanas foram adicionadas à lista de entidades não confiáveis e 12 à lista de controle de exportações.

Outro mecanismo implementado desde 2021 é o “Estatuto de Bloqueio”, inspirado naquele em vigor na União Europeia. Ele serve para proteger empresas chinesas da aplicação extraterritorial de leis de outros países. De acordo com essa norma, o Conselho de Estado pode ordenar que entidades chinesas “não reconheçam, cumpram ou obedeçam” a sanções estrangeiras extraterritoriais — e que processem judicialmente, na China, as perdas causadas por essas sanções.

Medeiros e Polk também destacam a Lei Antissanções Estrangeiras (AFSL, na sigla em inglês), que “se tornou uma das principais armas econômicas de Pequim”. Essencialmente, a AFSL cumpre três funções. Em primeiro lugar, fornece uma base jurídica fundamental com base em medidas e estatutos antissanções previamente publicados, em particular a Lista de Entidades Não Confiáveis (UEL) e as Regras de Bloqueio. Em segundo lugar, cobre uma lacuna nas duas normas antissanções anteriores, concedendo ao governo ampla discricionariedade para incluir pessoas e organizações em listas de sanções, juntamente com suas famílias e altos executivos. As sanções incluem restrições de visto, confisco de bens e ativos, e bloqueio de transações. Em terceiro lugar, oferece uma base legal para que empresas e entidades chinesas afetadas por sanções estrangeiras possam processar empresas e indivíduos estrangeiros por seu cumprimento.

Também têm sido aprimorados os mecanismos para aplicar revisões de cibersegurança e de fusões e aquisições, com o objetivo de afetar cirurgicamente empresas de países que tomem medidas contra a China.

Ao contrário da guerra tarifária, essas ferramentas dão à China a capacidade de infligir sofrimento muito específico a atores muito específicos nos EUA, sem custo ou sofrimento correspondente para si mesma.

Os autores deste estudo alertam que essas ferramentas foram projetadas para retaliação e têm sido usadas principalmente com esse propósito, mas seu uso também pode estar evoluindo, como demonstrado pelo uso no final de 2024 e início de 2025.

Retomando outro exemplo do desconhecimento da própria capacidade por parte dos funcionários norte-americanos, é notável como a estrutura do comércio bilateral desmente a ideia, defendida pelo Secretário do Tesouro Scott Bessent e pelo assessor Stephen Miran, de que os EUA têm a força do seu lado porque aquilo que não compram de um país podem obter de outro. Grande parte do que a China vende hoje aos EUA, dada a concentração das escalas de produção e a interdependência gerada pelas cadeias globais, não encontra substitutos equivalentes. A própria Comissão de Comércio Internacional dos EUA mostra que, para 44% do que os EUA compram da China, o grau de dependência das manufaturas chinesas é de 60% ou mais.

Selecionando alguns produtos, pode-se ver claramente como a China responde pela maior parte das vendas aos EUA desses itens, o que significa que as opções fora desse país para substituir tal volume são limitadas.

Os Estados Unidos ainda têm o segundo maior setor manufatureiro do mundo, com 13% da produção global, enquanto a China detém 35%. Mas nem com a mais fértil imaginação é possível pensar que, como resultado do fechamento do comércio com a China, tudo o que atualmente depende daquele país passará a ser produzido dentro das fronteiras americanas – assim como tampouco há muitos outros países que possam substituir a oferta chinesa. E mesmo que parte dessa produção voltasse ao solo norte-americano, seria sob condições de alta automação, o que não afetaria o emprego. Como observa laconicamente o Wall Street Journal, mesmo que a produção manufatureira dos EUA aumentasse a ponto de fechar o déficit comercial – algo sobre o qual o jornal é cético –, “e se o emprego crescesse proporcionalmente, a participação do setor manufatureiro no emprego subiria apenas de 8% para 9%. Não é exatamente uma transformação”.

Good show

Se há algo que não se pode negar a Trump é sua habilidade em manejar os tempos para manter o público em suspense. Seja no reality show O Aprendiz ou presidindo os EUA, as surpresas e reviravoltas são constantes. Assim, podemos esperar mais retaliações tarifárias, uma distensão e negociação nas próximas semanas, ou ambas as coisas sucessivamente. Mas nada vai devolver o mundo a uma “normalidade” anterior, porque já estamos há mais de uma década nos afastando dela, e nas últimas semanas houve um salto qualitativo que não será totalmente revertido mesmo que se anunciem suspensões das medidas recíprocas.

O que está claro é que se aprofundam os estertores da ordem preexistente, impulsionados por um líder norte-americano decidido a desfazer com golpes selvagens uma ordem forjada por essa mesma potência imperialista – simplesmente porque, sob as condições dessa ordem, vem ocorrendo um declínio que sucessivos presidentes tentaram conter sem sucesso. Nem os multilateralistas Obama e Biden – apostando em amplas alianças – nem o unilateralista Trump conseguiram frear o enfraquecimento do poder dos EUA, tampouco impedir os avanços da China. Trump pode amplificar o caos sistêmico, que é o fenômeno preexistente que explica seu retorno à presidência dos EUA, mas não está em suas mãos reverter esse curso declinante. Isso prenuncia, mesmo que haja algum armistício temporário, que os choques pela reconfiguração da ordem mundial continuarão sendo cada vez mais violentos.

 

Carrinho de compras
Rolar para cima