Gabriel Dolce
Este texto tem a intenção de ser uma análise inicial sobre a indústria da Região de Campinas e sua relação com o pólo tecnológico nela instalado. Longe de serem conclusões definitivas, são apontamentos iniciais que devem se desdobrar em outros textos com estudos setoriais para que se possa pensar as posições estratégicas da classe trabalhadora.
Desenvolvimento produtivo da região
A industrialização da Região Metropolitana de Campinas passa a se destacar a partir dos 1970, ganhando relevância no setor metalúrgico (com fábricas como a Mercedes e a Bosch) e têxtil na região de Americana. Além disso, nessa época é inaugurada a Refinaria do Planalto (Replan) da Petrobrás em 1972 no município de Paulínia, que daria impulso ao desenvolvimento de um dos maiores pólos petroquímicos da América Latina. Esse desenvolvimento produtivo permitiu que o proletariado da região fosse protagonista de importantes experiências, como a retomada do Sindicato de Metalúrgicos pela esquerda das mãos dos interventores da ditadura em 1984, o papel do Sindipetro Campinas na fundação da CUT (e do PT) e a greve de petroleiros de 1983 (que se enfrentou com a ditadura) com início na Replan.
Nos 1990, durante a forte crise inflacionária e o neoliberal Plano Real, que levaram à queda da produção industrial na Região Metropolitana de São Paulo (com fechamento de fábricas), a Região Metropolitana de Campinas se tornou destino de uma parte das indústrias que saíam da capital. Somaram-se a isso novos investimentos produtivos relacionados ao setor químico, farmacêutico, petroquímico, agroindústria (ligados a outros setores como a Caterpilar e a John Deere, metalúrgicas fabricantes de tratores) dentre outros, processo que seguiu até pelo menos 2018 (não foram encontrados dados sobre os anos seguintes até o presente para essa pesquisa). A presença do maior aeroporto de exportação (Viracopos – construído em 1960), do eixo rodoviário Anhanguera e Bandeirantes, de salários mais baixos do que se comparados aos de São Paulo (hoje a diferença é bem menor), de diversas instituições de ensino e pesquisa (incluindo as universidades, em especial a Unicamp, os colégios técnicos e os institutos de pesquisa privados que resultam em mão de obra qualificada e de fácil transferência tecnológica), de vantagens fiscais ofertadas pelos municípios, de valores mais baixos de aluguel do terreno (especulação imobiliária menor do que na capital do estado), somados à tendência da indústria a se concentrar formando cadeias produtivas, fizeram (e ainda fazem) da região um pólo atrativo para novas indústrias e investimentos empresariais.
A industrialização alcançou os quatro cantos de Campinas, com presença de fábricas importantes em todas as suas saídas, se estendendo às cidades de seu entorno. Os municípios da região de conjunto são fortemente industrializados, com presença de importantes conglomerados logísticos, de Santa Bárbara do Oeste à Indaiatuba. Esse processo de industrialização regional se deu de forma desigual, o que não será desenvolvido agora sobre o tema, apenas serão destacadas algumas tendências mais centrais, como a concentração da indústria petroquímica em Paulínia (maior polo petroquímico da América Latina, cujo crescimento estancou nas últimas décadas), a perda de fábricas em Americana pela crise do setor têxtil nos 1980, o padrão de concentração de indústrias menos tecnológicas em alguns municípios (como Nova Odessa, Pedreira e Santa Bárbara d’Oeste), enquanto os municípios de Campinas e Hortolândia tendem a concentrar as fábricas de maior padrão tecnológico. 1
O fortalecimento industrial fora da Região Metropolitana de São Paulo ao longo dos 90 e 2000 não é exclusividade da região de Campinas, como é o caso a região do Vale do Paraíba (com importante concentração metalúrgica, com fábricas de alta tecnologia como a Embraer), da Baixada Santista e de Sorocaba (onde a Toyota planeja instalar um complexo industrial ainda maior depois do fechamento da fábrica em Indaiatuba). Porém, em Campinas o crescimento industrial se deu de forma mais intensa e com a particularidade de ter se desenvolvido conjuntamente ao maior polo de inovação tecnológica do país (a própria Unicamp é um dos maiores produtores de patente nacional), o que é estratégico para a indústria de ponta. Apesar da relativa perda de peso industrial de São Paulo, a Região Metropolitana de São Paulo segue com maior número absoluto de estabelecimentos industriais e de trabalhadores fabris. Porém, o Valor de Transformação Industrial (que corresponde à diferença entre o valor bruto da produção industrial e o custo com as operações industriais, algo como um PIB industrial) da Região Administrativa de Campinas (que abarca também o município de Piracicaba, dentre outros) não só supera São Paulo, como é hoje o maior do país 2,como segue na tabela abaixo :
Vale destacar o recente investimento feito pelo Governo Federal na expansão da Replan, em que esta passará da produção de 24 milhões de litros de diesel por dia para 34 milhões. Hoje, a refinaria é a principal estrutura produtiva da região, com a capacidade de refinar 434 mil barris por dia, e 47% de sua produção de Diesel é usada no abastecimento de máquinas agrícolas, mostrando a relação com o agronegócio. A planta possui 3,3 mil trabalhadores, sendo que entre 500 e 700 são efetivos, o que significa a presença de um número elevado de trabalhadores terceirizados. 3
Contudo, é impotante salientar que também se concentram na RMC fábricas com condições de trabalho precárias, um alto nível de terceirização (em serviços e comércios, mas também dentro das fábricas de ponta) e uma forte presença de setores historicamente mais precarizados como é o caso da construção civil (que tem protagonizado greves importantes nos últimos anos como as da MRV 4. Além disso, os casos de acidente de trabalho registados cresceram em 7 vezes de 2020 até Abril deste ano 5 (nesse sentido, vale lembrar a explosão da Aldebras, fabrica de produtos adesivos em Vinhedo, em janeiro do ano passado em que 3 operários faleceram). 6. A indústria com tecnologia de ponta convive bem com o trabalho precário, como mostra o caso do estado da Califórnia em que abriga o Vale do Silício, assim como um importantes conglomerados logísticos com forte presença da mão de obra negra e imigrante. O artigo de Tonelo e Fardin sobre a fábrica da Jeep em Pernambuco, em que ilustram um exército de KUKAs (braços robóticos) funcionando conjuntamente com uma massa de trabalho humano precarizado, também elucida bem essa questão. 7
Região como pólo tecnológico
Em elaborações anteriores 8 apontou-se para a relação entre produção de conhecimento científico e tecnológico da Unicamp e desenvolvimento produtivo na RMC:
No site da Unicamp encontramos seus objetivos “ao dar ênfase à investigação científica, a Unicamp parte do princípio de que a pesquisa, servindo prioritariamente à qualidade do ensino, pode ser também uma atividade econômica. Daí a naturalidade de suas relações com a indústria, seu fácil diálogo com as agências de fomento e sua rápida inserção no processo produtivo.”
Nessas mesmas elaborações, chamou-se a atenção para presença de empresas como a Samsung, Pirelli, LG, Motorola, BASF, CPFL, Shell, Cargill e Monsanto no INOVA (núcleo de desenvolvimento tecnológico da Unicamp criado em 2003), todas elas relacionadas com o setor produtivo e boa parte com fábricas instaladas na região. Além disso, também apontou-se para a presença do Cepetro (Centro de Estudos de Petróleo) que, além de ter relação direta com a Replan (com gestores da refinaria como membros do conselho administrativo do centro), é financiado pela Shell, Chevron, Esso, dentre várias outras 9. Assim, não é à toa que representantes da FIESP possuem assento no Conselho Universitário.
Outros pólos de desenvolvimento tecnológicos privados se formaram com relação direta com a Unicamp como a Embrapa (produção de tecnologia para o agronegócio) e o Technopark, além da região ser um centro de referência no campo de inteligência artificial e tecnologias de comunicação e informação – fundamental para o desenvolvimento e implantação das tecnologias relacionadas à “industria 4.0”- com a presença do CPQD (Centro de Pesquisa e Inovação em Tecnologias da Informação e Comunicação).
De 2023 em diante, a região tem recebido fortes investimentos, principalmente na área de serviços ligados à indústria e ao desenvolvimento tecnológico. Como aponta o relatório da Puc-Campinas 10, “mais uma vez, a força dos investimentos confirmados mostrou-se associada às relações entre as atividades produtivas da Indústria e o sistema local de serviços intensivos em conhecimentos e tecnologias, sobretudo, o que se avista em serviços intensivos em conhecimentos e tecnologias característicos da Revolução 4.0”. A evolução do investimento pode ser visualizado na seguinte tabela:
Alguns desses investimentos estão diretamente vinculados à Unicamp, como o HIDs – parque tecnológico privado vinculado à Unicamp para o desenvolvimento de soluções sustentáveis, o Órion – laboratório de biossegurança vinculado ao Sirius (acelerador de partículas localizado em Campinas), e o Instituto de Otorrinolaringologia & Cirurgia de Cabeça e Pescoço (IOU) – hospital especializado privado de ponta relacionado a Facamp. Embora as pesquisas vão para além do setor produtivo, é revelador a fala do Tom Zé, atual reitor da Unicamp, na câmara municipal de Campinas ao se referir ao IOU: “ Mas a gente não quer só fazer assistência. A gente quer é que, para o entorno desse complexo de assistência à saúde da região, sejam também atraídas indústrias que produzam equipamentos, que fabriquem fármacos, biofármacos, que prestem consultorias na área médica, empresas de engenharia que pensem na logística hospitalar, na engenharia de construção de equipamentos de saúde, na tecnologia da informação e na inteligência artificial e todo o complexo industrial e de serviços ao redor desse atendimento à população” 11
Revelador também do sentido das pesquisas realizadas nesses pólos tecnológicos é essa passagem encontrada no site do Sírius, fonte de luz sincontron (tipo de acelerador de partículas), definida como a maior e mais complexa infraestrutura científica já construída no País:
“Sirius é financiado com recursos do MCTI e projetado por pesquisadores e engenheiros do CNPEM, em parceria com a indústria nacional.[…] Sirius permite que centenas de pesquisas acadêmicas e industriais sejam realizadas anualmente, por milhares de pesquisadores, contribuindo para a solução de grandes desafios científicos e tecnológicos, como novos medicamentos e tratamentos para doenças, novos fertilizantes, espécies vegetais mais resistentes e adaptáveis e novas tecnologias para agricultura, fontes renováveis de energia, entre muitas outras potenciais aplicações, com fortes impactos econômicos e sociais.” [^12]
Aqui podemos ver que o objetivo do desenvolvimento científico está diretamente atrelado não só à indústria de alta tecnologia, mas também à agroindústria e ao agronegócio. Ainda nesse sentido, José Henrique Toledo Correa, diretor do do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) Campinas, disse no ano passado em evento sobre o projeto de lei complementar que permitirá o Polo de Inovação e Desenvolvimento Sustentável (PIDS) a ser implantado em Barão Geraldo (com provável aumento da especulação imobiliária) relacionado ao HIDS, que este último será “o principal evento econômico e social da história de Campinas, tornando a qualidade tecnológica desenvolvida lá uma referência não apenas no Brasil, mas globalmente. As indústrias têm interesse nessa nova tecnologia. Não só desenvolvendo, mas também comprando. E toda essa tecnologia que é desenvolvida no Sirius, Unicamp, CNPq é absorvida pelas empresas associadas, que podem multiplicar isso” 13. No dia 4 de julho deste ano, foi aprovada uma lei na câmara dos deputados, formulada pelo ex-prefeito de Campinas Jonas Donizette (PSB), que confere a Campinas o título de “Capital Nacional da Ciência, Tecnologia e Inovação” 14. Embora em si mesmo esse título não signifique muita coisa, somado ao peso industrial e tecnológico da região apontado anteriormente e à crescente tendência de investimento em pesquisa e inovação, ele sinaliza a crescente importância econômica da RMC e da Unicamp dentro dela.
Para além das relações diretas já apontadas entre produção e pesquisa, é importante ressaltar que no capitalismo contemporâneo um dos maiores gastos do setor produtivo para ser competitivo é com P&D (pesquisa e desenvolvimento). Isso significa que, para além de fornecer os elementos necessários para o desenvolvimento industrial de ponta (como mão de obra qualificada e presença de estrutura em TICs), a existência de instituições públicas de pesquisa na região como a Unicamp permite a socialização (e consequente economia) dos enormes gastos com P&D por parte das empresas instaladas, financiadas com verbas públicas da educação. Para se poder visualizar, é só pensar que, por conta própria, cada empresa teria que financiar e manter seus próprios laboratórios e pesquisadores, algo inviável quando levamos em consideração o próprio Sirius. Em termos marxistas, se trata de uma forma de transferência de mais-valor para a reprodução do Capital.
Assim, é útil pensar a localização da Unicamp dentro de Barão Geraldo como parte do Estado Integral, ou seja, como parte das estratégias de contenção do Estado burguês. Ela se dá pelo isolamento geográfico do bairro universitário (e consequentemente da intelligentsia) das concentrações operárias e das contradições sociais da região, contato este que historicamente tem consequências explosivas para a luta de classes.
Indústria, posições estratégicas e RMC
Os marxistas revolucionários, por serem materialistas, analisam as condições objetivas para a revolução social, assim como pensam estrategicamente a construção de suas organizações em locais em que o proletariado possui força e peso objetivo. Contra qualquer visão “obreirista”, vêem o potêncial revolucionário da classe trabalhadora, não em uma “ontologia” própria da classe operária ou em qualquer metafísica essencialista de classe (presente em alguns visões idealistas do marxismo), mas pela posição que ocupa dentro da produção e a possibilidade que essa posição dá de, tanto paralisar o Estado e a sociedade capitalista em uma greve geral de massas, quanto articular “uma ordem alternativa capaz de substituir a ordem capitalista” 15.
Nesse sentido, as concentrações industriais seguem sendo locais de grande importância estratégica por seu peso econômico e sua relevância objetiva, assim como pela alta concentração de trabalhadores em espaços em que o trabalho é mais coletivo e cooperativo, o que torna o terreno mais propício à maior organização e consciência sindical (não à toa nos sindicatos industriais as burocracias sindicais costumam atuar de forma mais presente e atuante para conter, sob importante ditadura patronal – diferente do que comumente se vê no comércio e nos serviços).
O conceito de “posições estratégicas” é útil para pensar os setores da classe trabalhadora que possuem maior poder de fogo quando cruzam os braços e, portanto, chaves para greve geral de massas – horizonte estratégico do trotskismo. John Womack, em seu livro Posición estratégica y fuerza obrera 16, define que posições estratégicas são “quaisquer que permitam a alguns trabalhadores determinar a produção de muitos outros, seja dentro de uma empresa ou em toda a economia”. Matias Maiello, no artigo Bolívia: luta de classes e posições estratégicas
aponta que essas posições podem ser usadas de forma corporativa (para atender aos interesses exclusivos de uma determinada categoria), mas também podem “ser uma força tremenda para desenvolver a hegemonia operária em uma luta contra o todo o regime capitalista”. Nesse sentido, a articulação entre as posições estratégicas e os setores mais precarizados é um problema central para o desenvolvimento dessa hegemonia (e por isso também a necessidade da defesa intransigente da unidade entre trabalhadores efetivos e terceirizados, assim como da batalha para utilizar as posições estratégicas como tribunos de todo o povo oprimido), algo de particular importância em uma cidade como Campinas.
A entrada em cena dos trabalhadores que ocupam as posições estratégicas pode cumprir um papel decisivo na luta de classes. Caso concreto é o da refinaria de Senkata na Bolívia, que abastece de gás liquefeito e gasolina de todo o departamento de La Paz, onde se concentra o centro político e uma parte considerável da população e da atividade econômica do país. Na guerra do gás em 2003, a greve dos trabalhadores de Senkata, somada aos piquetes populares na porta da refinaria, foi fundamental para a queda de Sanchéz de Lozada (processo que depois foi desviado). O PTR chileno (organização irmã do MRT) possui trabalho político em Antofagasta pelo fato de a região concentrar parte importante da enorme produção de Cobre do país (27% da produção mundial de cobre é chilena). O que teria sido o “Estalido Chileno” se o movimento operário da mineração (posição estratégica) convocasse a greve geral de massas por tempo indeterminado com um programa de independência de classe e convocando a população para medidas de auto-organização 17? Podemos pensar também no peso dos trabalhadores dos transportes em grandes cidades, como é o caso dos Rodoviários e Metroviários de São Paulo. As posições estratégicas podem ainda ser decisivas para impor a Frente Única Operária à burocracia sindical, tática fundamental em momentos agudos da luta de classes. 18.
A partir dessa reflexão, pode-se definir a Região Metropolitana de Campinas como um bastião objetivo da classe operária pelo peso industrial e produtivo que possui e pelo papel que suas posições estratégicas podem cumprir nos momentos agudos da luta de classes. Isso se forem forjadas frações revolucionárias em seu interior que batalhem por uma política de independência de classe e pela Frente Única Operária 19 Como parte da batalha por essa perspectiva , é necessário fazer emergir nos centros de ensino e pesquisa (como na Unicamp e nos colégios técnicos) um movimento estudantil que defenda a aliança operária-estudantil e que se ligue às lutas da classe trabalhadora, que batalhe para que o conhecimento ali produzido não sirva à melhor exploração do enorme contingente operário de Campinas ou ao agronegócio que destrói biomas, e sim esteja a serviço dos interesses e necessidades da classe trabalhadora e do povo pobre e oprimido. Um exemplo histórico do potencial dessa aliança é o do movimento estudantil da USP que, junto à estudantes do Senai, ajudou na organização da comissão de fábrica clandestina que realizou a ocupação da fábrica da Cobrasma em Osasco em 1968 – na Unicamp, o ME fez arrecadação para o fundo de greve para a greve da Mercedes em 1980.
Além disso, as categorias do funcionalismo público na cidade, em particular na saúde e na educação, muitas vezes estão em contato direto com diversos setores da população e enfrentam a precarização dos serviços públicos e podem também cumprir o papel de tribunos do povo, se superado o sentido corporativista que as burocracias sindicais buscam atribuir a suas lutas. A combinação entre as posições estratégicas do gigante operário de Campinas e o tradicional funcionalismo público, com seu histórico de greves, buscando a unificação com setores mais precários da classe e a hegemonia de setores populares e de classe média, tem força estratégica para pensar os caminhos da luta de classes na cidade. É nisso que apostamos desde o Nossa Classe e a Faísca Revolucionária, estendendo essa batalha aos grandes centros de conhecimento, como na Unicamp.
Palavras finais
Em textos futuros, pretende-se avançar no estudo da malha produtiva da região e entender quais são as indústrias mais estratégicas na RMC, quais as indústrias de maior relevância em uma determinada cadeia produtiva e onde se concentram. O que facilmente é possível definir desde já é que a Refinaria do Planalto em Paulínia é a principal posição estratégica da região, pois dela depende o abastecimento de Diesel para o transporte rodoviário e máquinas agrícolas de todo o interior de SP. Também pretende-se ter uma visão mais precisa sobre o peso do agronegócio para o desenvolvimento industrial regional, pois aqui se concentram não só fábricas produtoras de máquinas agrícolas, fertilizantes e refino de diesel, como parte das pesquisas realizadas nos laboratórios de alta tecnologia (como o Sirius) são voltadas para o agro.
Por fim, algumas palavras sobre as atuais eleições municipais na região. A Frente Ampla de Lula-Alckmin (expressa com dois candidatos para prefeito em Campinas: Dario Saad [Republicanos], com seu vice do PSB [partido de Alckmin], e Tourinho [PT], com vice do PSOL 20) mantém e aprofunda as reformas antioperárias do pós-golpe de 2016 (como a trabalhista, a previdenciaria e o PL da uberização) e, ao contrário de combater, fortalece a extrema direita, como é o caso de Tarcísio de Freitas no estado de SP que recebe apoio do governo federal em sua política privatista e repressiva. Como parte da perspectiva estratégica apresentada no texto de construir frações revolucionárias no interior da classe trabalhadora e de suas posições estratégicas na região que batalhem pela política de independência de classe, o MRT apresenta nessas eleições municipais a candidatura da Banca Revolucionária de Trabalhadores para a Câmara de Vereadores de Campinas, com a Flávia Telles – professora categoria O da rede estadual de ensino, e Matheus Correia – trabalhador da Unicamp. Essa candidatura se coloca contra a conciliação da Frente Ampla com os inimigos da classe trabalhadora, como o agronegócio, os bancos e os grandes empresários (nacionais e estrangeiros), os pastores evangélicos e os militares, e é por isso que pode ser consequente (diferente dos candidatos da Frente Ampla) com a defesa do fim da escala 6×1 sem redução de salário, o fim da terceirização e do trabalho precário e que todos os políticos e juízes ganhem como um professor.
Notas de rodapé
No referido texto, Matías retoma a atuação do PTR em Antofagasta durante o “estalido chileno”: “a prioridade do PTR é impulsionar organizações reais de auto-organização. Nesse sentido, há experiências de auto-organização que têm desempenhado um papel importante na luta e são um verdadeiro exemplo nacionalmente. A mais avançada delas é em Antofagasta, cidade de mineração de cobre em uma das regiões que concentra grande parte dos setores produtivos do Chile. Nós nos referimos ao Comitê de Emergência e Abrigo. Um espaço de auto-organização que articula trabalhadores da educação, do setor público, portuários, estudantes, residentes locais, organizações de direitos humanos, do mundo da arte, profissionais da comunicação, organizações sociais e políticas. Realiza assistência médica aos feridos, assistência jurídica contra a perseguição do Estado e vem articulando ações nesta importante cidade. Na terça-feira, dia 12, formou-se uma frente única com setores da CUT que resultou na mobilização de mais de 25 mil pessoas na cidade (que possui um total de 285 mil habitantes) e em piquetes para garantir a paralisação. O Comitê de Emergência e Abrigo, por sua vez, endossou a proposta de uma greve geral com paralisação por tempo indeterminado até que caia o governo Piñera e toda a sua repressão, chamando a não confiar na política do governo com sua farsa de constituinte e a avançar rumo a uma assembleia constituinte livre e soberana onde os trabalhadores e os pobres decidam e organizem as soluções para os problemas da grande maioria.”.
“Para conseguir impor a frente única são necessárias forças. Existem essencialmente três formas de impor a frente única. Uma é pelo próprio impulso das massas que passam à ação, que seria mais uma unificação “de fato […]. Outra é graças à ação de um partido revolucionário, que para isso precisa ser uma força política poderosa que constitua uma porção decisiva da classe operária organizada sindical ou politicamente – Trótski, em suas “Teses sobre a frente única”, fala que é necessário um quarto ou um terço dela. Uma terceira forma é a partir da articulação dos setores em luta que constituem a vanguarda do movimento operário em instituições de coordenação que imponham seu peso à burocracia. [… Evidentemente, não são formas “puras”, geralmente se combinam em alguma medida. Mas a perspectiva de uma esquerda revolucionária nunca pode ser esperar passivamente que o impulso das massas imponha a frente única”.