Revista Casa Marx

[INTRODUÇÃO] Rosa Luxemburgo, a águia da revolução para as novas gerações

Diana Assunção

Neste 8 de Março, teve início a pré-venda do livro "Rosa Luxemburgo, a águia da revolução", de Diana Assunção. Trata-se de uma novidade das edições Iskra. O livro de Diana Assunção faz um mergulho na vida e obra da revolucionária polonesa Rosa Luxemburgo de uma perspectiva inovadora e inédita em nosso país. O prefácio é de Isabel Loureiro, professora que editou uma série de livros sobre Rosa Luxemburgo e a contra-capa foi escrita por Rita Von Hunty. O posfácio é de Guillermo Iturbide, militante do Partido dos Trabalhadores pelo Socialismo (PTS) que editou parte importante das obras de Rosa na Argentina. Nesta edição do Suplemento Ideias de Esquerda, publicamos a Introdução do livro, "Rosa Luxemburgo, a águia da revolução para as novas gerações".

Este livro tem como objetivo trazer ao público brasileiro uma leitura marxista revolucionária sobre a obra e militância de Rosa Luxemburgo. Buscaremos resgatar a essência do pensamento de Rosa e as lições que podemos extrair da sua experiência para reafirmar a atualidade da revolução socialista em pleno século XXI. Definida por Karl Kautsky como “um dos melhores cérebros da Alemanha”, por Georg Lukács como “a única discípula de Marx que desenvolveu posteriormente a obra de sua vida”, por Franz Mehring como “o cérebro mais genial entre os herdeiros científicos de Marx e Engels”, por José Carlos Mariátegui como “ao mesmo tempo um cérebro e um braço do proletariado alemão” e por Clara Zetkin como “a espada e a chama da revolução”, Rosa foi a maior dirigente socialista mulher da história da humanidade. Sua força atravessa o século. Todos os anos na Alemanha, sempre no dia 15 de janeiro, data de seu assassinato, dezenas de milhares de pessoas, inclusive nos últimos anos chegando até a ser cem mil, marcham até o cemitério central do bairro de Friedrichsfelde, na zona oriental de Berlim, onde estavam enterrados Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, cujos corpos desapareceram durante o nazismo. Esta marcha simboliza a importância de manter viva a tradição de Rosa e Karl.

Por isso, nesta obra, além de trazer à tona uma análise das posições de Rosa, buscaremos analisar também suas divergências e confluências especialmente com os principais dirigentes da Revolução Russa, Vladímir Ilich Lênin e Leon Trótski, como forma de mostrar o marxismo vivo desta tradição revolucionária com múltiplas posições e formas de pensar. Para isso abordaremos as principais obras políticas de Rosa analisando a relação destas com sua atividade prática e as polêmicas nas quais se envolveu ao longo de sua militância. Acreditamos que é útil aprofundar a análise sobre a “Rosa Luxemburgo da Revolução Alemã” e suas conclusões no calor deste processo até o momento em que sua vida foi brutalmente interrompida pelo governo da social-democracia alemã. Isso porque, ao contrário de apresentá-la como uma Rosa de um “socialismo democrático” em oposição à experiência bolchevique, entendendo esta denominação carregada de um viés reformista, a análise dos seus textos sobre a Revolução Alemã deixa em evidência, em suas últimas palavras e por sua própria experiência, certa confluência com as lições da Revolução Russa de 1917, como a conclusão de que os partidos centristas e reformistas podem se tornar verdadeiros obstáculos para que a classe operária consiga levar adiante a revolução operária e socialista. Neste sentido, para Rosa, a ideia de democracia estava diretamente vinculada à ação contundente das massas pela ditadura do proletariado rumo ao comunismo. Para demonstrar isso vamos nos chocar com um certo paradoxo da atualidade: a atual unanimidade nos meios reformistas em torno da figura de Rosa Luxemburgo não poderia ser mais contrastante com o persistente isolamento no qual viveu a revolucionária por suas posições justamente contra o reformismo e revisionismo durante praticamente toda a sua vida.

Nos interessa mergulhar também nas origens do PT e sua intelectualidade influenciada pelas ideias de Rosa Luxemburgo e fazer paralelos entre o pensamento da revolucionária e a conformação de um partido de massas da classe operária no Brasil. Neste processo, queremos demonstrar o sentido profundo e grandioso da denominação “águia da revolução”, como a definiu Lênin. O sentido de que, na Alemanha do começo do século XX, apenas uma revolucionária dentre todos aqueles que eram considerados “papas do marxismo” foi capaz de dar voos altos pela revolução mundial. Era ela, Rosa Luxemburgo, o nome que entrou para a história do socialismo internacional. Essas reflexões têm o intuito de defender que hoje, em pleno século XXI, suas ideias, do marxismo revolucionário, seguem vigentes.

Essa mesma águia com sua fúria revolucionária buscava a beleza da vida e da natureza nos momentos mais difíceis, como nos períodos em que esteve presa. “Rosa buscava alegria em cada pio de pássaro, em cada flor que se abria, nas formigas que construíam seus túneis entre as pedras, na mamangava que se perdeu em sua cela, na mariposa quase congelada que ela conseguiu reanimar e na nuvem que se avolumava no fiapo de azul celeste que lhe restara” 1 , relatou Paul Frölich, um de seus biógrafos. Mas mesmo antes da prisão Rosa pintava, bem como colecionava folhas e flores, construindo um belo herbário que temos a alegria de trazer ao público brasileiro pelo olhar da artista plástica e bióloga Lina Hamdan, com uma capa que entrelaça a águia da revolução com o herbário de Rosa em uma exsicata 2 com a inflorescência da Hoffenbaum (Árvore da Esperança). Também na abertura de todos os capítulos, bem como no artigo “O herbário de Rosa Luxemburgo: símbolo de toda uma vida comunista” encontramos imagens das exsicatas. É o contraste entre a águia da revolução e a beleza da vida, ou seria a síntese justamente da vida pela qual Rosa lutava, a beleza de um planeta e uma sociedade que permitisse a livre apreciação da natureza em uma relação harmônica entre a humanidade, as flores e folhas? Um herbário como símbolo de toda uma vida comunista.

Antes de aprofundar em algumas reflexões nesta introdução, façamos um breve resumo dos capítulos deste livro. Para começar, vamos adentrar em uma reflexão sobre a elaboração de sua primeira obra importante, Reforma social ou revolução?, que resume sua luta política contra o revisionismo reformista de Eduard Bernstein, grande dirigente da social-democracia alemã. Na sequência, vamos abordar as influências do revisionismo em outros países no capítulo “O bernsteinianismo atravessa fronteiras: ‘ministerialismo socialista’ francês e o caso belga”, analisando a posição dos revolucionários sobre a entrada de um socialista em um governo burguês, as políticas de cooptação do movimento operário pela democracia burguesa e as experiências de greve de massas diante dos acordos parlamentares que entregavam os direitos da classe trabalhadora. Em seguida, vamos analisar o texto “Questões de organização da social-democracia russa” e o debate de Rosa com Lênin sobre o jacobinismo, nos primórdios da discussão dialética sobre classe, partido e direção e desvendando uma crítica superada e uma autocrítica reveladora que contestam as teorias de antecipação de “vertente stalinista” no bolchevismo. Vamos mergulhar no estudo da obra Greve de massas, partido e sindicatos assim como mergulhou Rosa na Revolução Russa de 1905 para entender seu impacto na vanguarda alemã, e no próprio desenvolvimento do pensamento da revolucionária polonesa quando ela mesma diz “Os meses passados na Rússia, os mais felizes de minha vida” 3. Neste ponto, vamos resgatar o grandioso combate de Rosa Luxemburgo às burocracias sindicais.

Desse processo começamos a analisar o início da ruptura com a social-democracia alemã em seu sentido político, o que se expressa no debate sobre Friedrich Engels e seu testamento na discussão com os anarquistas, e a posição de Rosa. E então poderemos analisar o início da construção do embrião da ala esquerda da II Internacional, que vai se expressar na ruptura pessoal com seu velho amigo Karl Kautsky.

Esta ruptura se desdobra em um importante debate entre a estratégia de desgaste e a estratégia de derrubada, que retoma os conceitos militares para pensar a revolução, o que no caso de Rosa a leva ao debate sobre o partido e seu “centro de gravidade” – que, para ela, deveria ser a luta de classes. O parlamentarismo revolucionário é um dos pontos-chave do debate sobre as táticas do partido frente a essas estratégias. Então, entraremos em um capítulo intenso da vida política não somente de Rosa, mas mundial, que é a Primeira Guerra Mundial e a crise da social-democracia alemã, com a publicação do Folheto Junius e todas as discussões da Conferência de Zimmerwald. Vamos buscar identificar os elementos que marcaram a reorganização da ala esquerda alemã depois da traição do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD).

Nesta reorganização vamos analisar o surgimento da Liga Spartacus e a divisão do SPD. Em seguida, os importantes eventos da luta de classes internacional, em primeiro lugar a Revolução Russa de 1917 e todas as posições de Rosa Luxemburgo, e depois a Revolução Alemã de 1918 e todos os debates que se depreendem deste processo, como os conselhos de operários e soldados, o papel do SPD e do Partido Social-Democrata Independente da Alemanha (USPD), a fundação do Partido Comunista da Alemanha (KPD), as posições de Rosa Luxemburgo em janeiro de 1919 e, por fim, seu assassinato e de Karl Liebknecht.

No capítulo “Confluências e divergências entre Rosa, Lênin e Trótski”, buscamos sistematizar algumas das discussões entre estes três revolucionários que, formando parte de um mesmo marxismo, guardavam debates fundamentais sobre os dilemas da revolução. Abordaremos algumas das grandes discussões que atravessam toda a trajetória de Rosa, tanto sobre espontaneidade 4 e consciência quanto sobre partido de vanguarda e partido de massas. Vamos analisar os programas da ditadura do proletariado e ditadura democrática de trabalhadores e camponeses, pensando as posições de Rosa também no que diz respeito às tarefas da revolução em debate com Lênin e Trótski.

Buscamos, com base em todas essas reflexões, analisar também o pensamento dos luxemburguistas brasileiros na fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil e as influências de Rosa Luxemburgo. Também analisamos a deturpação stalinista de Rosa, sua visão sobre a arte da insurreição e as conclusões a que podemos chegar sobre os debates da Revolução Alemã de 1918, bem como as conclusões de Rosa. Contamos com o posfácio de Guillermo Iturbide, com o sugestivo título “Make Rosa Luxemburgo Radical Again”. Como podem ver, são inúmeras discussões. E para ilustrar estes debates apresentamos um Caderno de Imagens com uma seleção de fotos da trajetória de Rosa Luxemburgo, incluindo imagens inéditas no Brasil.

Antes de entrar neste longo caminho, abordaremos alguns elementos da biografia de Rosa. Nos baseamos em algumas importantes biografias da revolucionária, sendo uma das principais a escrita por Peter Nettl, historiador nascido em 1926, que publicou esta biografia em 1966 na Grã Bretanha. Segundo Elżbieta Ettinger 5, escritora polonesa-americana e autora de um livro sobre a vida pessoal de Rosa, que também faz parte de nossa bibliografia, a publicação de Nettl foi o primeiro relato abrangente da vida da revolucionária polonesa a ser publicado desde 1940 e definido pelo jornal The New York Times como uma “obra clássica”. Peter Nettl é um autor não marxista com opiniões por vezes reacionárias sobre o comunismo, mas que traz uma biografia rica e completa captando dialeticamente várias das posições de Rosa Luxemburgo. Também nos apoiamos na biografia de Paul Frölich, camarada de Rosa e que tem, portanto, importante valor como texto de um contemporâneo. A obra de Annelies Laschitza também é uma fonte relevante deste estudo. Laschitza editou as cartas escolhidas de Rosa, além da biografia robusta com o sugestivo título Na embriaguez da vida, apesar de tudo, e foi consultora da cineasta Margarethe Von Trotta em seu filme Rosa Luxemburgo. A biografia do filósofo marxista zimbabuano Norman Geras também está entre as obras de referência. O livro Rosa Luxemburgo: a liberação feminina e a filosofia marxista da Revolução, da filósofa ucraniana Raya Dunayevskaya, posterior fundadora do chamado marxismo humanista, também está em nossa bibliografia. Para pensar as tarefas da revolução internacional, compõe o escopo das elaborações que nos baseamos o livro Estratégia Socialista e Arte militar, de Emilio Albamonte e Matías Maiello, que ademais oferece uma rica análise sobre as posições de Rosa em debate com Karl Kautsky. Das referências brasileiras, dialogamos com o sociólogo Michael Löwy e principalmente com a professora Isabel Loureiro, autora do prefácio deste livro onde se expressam parte das discussões e divergências que buscamos também suscitar com esta elaboração.

Um pouco sobre a vida de Rosa

Como relata Paul Frölich em sua biografia 6, Rosa nasceu em 5 de março de 1871, poucos dias antes do início da Comuna de Paris. Nasceu na cidade de Zamość, na Polônia, sendo a mais nova dos cinco filhos dos jovens Lina Löwenstein e Elias Luxemburgo. Em 1873, a família migra para Varsóvia. Em 1876, Rosa teve um problema no quadril que, ao que tudo indica, foi equivocadamente tratado como tuberculose óssea, deixando-a cerca de um ano de cama, o que a levou a ficar manca. Tratava-se provavelmente de uma luxação congênita no quadril, tal como a irmã mais velha teve, o que também a deixou manca 7.

Nesse momento, em Varsóvia, o tsarismo havia proibido a língua polonesa na escola, inclusive entre os próprios alunos, o que alimentava um espírito de resistência diante dessa repressão. Paul Frölich 8 aponta que esses pequenos focos de resistência na escola naquele momento eram como “pontes” para organizações políticas reais, e que Rosa entrou nessa oposição dos alunos à proibição da língua polonesa, ao que parece, com um papel até mais protagonista. É possível que já nesse momento Rosa estivesse vinculada a organizações políticas reais, pois a medalha de ouro que era dada aos melhores alunos deveria, nitidamente, ser entregue a ela, mas não o foi pela justificativa de que Rosa teria uma postura oposicionista em relação às autoridades. De qualquer forma, logo após sair do ginásio ela passa a atuar no Partido Socialista Revolucionário Proletariat, quando tinha somente 15 anos.

Em 1889 é fundada a Liga Operária Polonesa, da qual Rosa participa por um tempo. Ela emigra para Zurique fugindo da repressão e, neste mesmo ano, é fundada a II Internacional. No ano seguinte Leo Jogiches, que será seu companheiro por anos, chega a Zurique. Também na biografia, Frölich enfatiza que a passagem de Rosa pela universidade foi algo emblemático, pois esta era uma espécie de “escola superior” para jovens revolucionários 9. A juventude que estava na universidade não era a estudantil burguesa que só pensava em cargos, mas imigrantes em sua maioria, e imigrantes que pensavam no futuro da humanidade. Ele conta que as discussões eram das mais variadas e de impressionante profundidade: discutiam filosofia, darwinismo, emancipação das mulheres, Marx, Tolstói, o significado histórico do desenvolvimento do capitalismo na Rússia, os métodos da luta revolucionária, diversos romances de autores e muitos outros assuntos, mas, no fundo, sempre o mesmo tema: a revolução 10.

Em 1893 ocorre a fusão entre o Partido Socialista Revolucionário Proletariat, a Liga Operária Polonesa e mais dois grupos, o que dá lugar ao Partido Socialista Polonês (PSP). O jornal do partido, chamado Sprawa Robotnicza [Causa dos Trabalhadores], fundado por Leo Jogiches, contou com Rosa como dirigente e foi ela quem redigiu a carta de pedido de entrada deste partido na II Internacional. No Congresso da Internacional em Zurique, Rosa defende sua posição sobre a questão da independência da Polônia. Essa discussão leva à divisão do Partido Socialista Polonês e à criação da Social-Democracia do Reino Unido da Polônia, sob liderança de Rosa e Leo Jogiches. Sobre este debate da questão nacional e autodeterminação das nações oprimidas, publicamos em anexo o texto de Guillermo Iturbide analisando as posições de Rosa Luxemburgo.

Em 1897 Rosa organiza um casamento de fachada com Gustav Lübeck para conseguir a cidadania alemã e se muda para Alemanha aos 28 anos. Jogiches não gostou da ideia. Apesar de em seu convívio, segundo Clara Zetkin, Leo Jogiches sempre ter aceitado a personalidade de Rosa, “a ambição que ele temia era também seu principal propulsor” 11. Em uma de suas primeiras aparições públicas no SPD, Rosa disse em carta:

Você não tem ideia da influência favorável que minhas primeiras aparições tiveram neles e em mim […]. Agora tenho certeza de que dentro de meio ano serei uma das melhores oradoras no partido. A voz, o temperamento, a língua, tudo é colocado à prova. E, o que é mais importante, subo à tribuna como se eu estivesse fazendo isso nos últimos 20 anos. 12

No começo, entretanto, sugerem que assuma a questão de gênero como tarefa prioritária, mas Rosa rechaçou com indignação a sugestão oficial de que poderia encontrar seu meio ambiente natural no movimento feminino 13. Inclusive Rosa não verbalizava forte interesse nas campanhas específicas pelos direitos das mulheres, considerando que só iriam se resolver com o socialismo, algo que a relação com Clara Zetkin foi transformando, a quem ela chamava de “melhor de todas as pessoas”. É possível considerar que esta posição era uma reação às tentativas dos dirigentes da social-democracia em enquadrar Rosa como uma “dirigente da questão da mulher”. Ainda assim, o combate sobre os direitos das mulheres em Rosa Luxemburgo se via inteiramente inserido dentro da luta política, como é possível verificar no caso belga. As cartas a Zetkin, ao fim de sua vida, transbordam a importância da luta das mulheres: “Agora, a agitação das mulheres! Sua importância e sua urgência nos é clara assim como para você”, disse em 24 de novembro de 1918. 14 Sobre este tema, Raya Dunayevskaya defende com mais veemência e um pouco de idealismo o que ela define como atuação feminista de Rosa Luxemburgo:

Em uma palavra, longe de Rosa Luxemburgo não ter interesse na chamada “questão da mulher”, e longe de Clara Zetkin não ter interesse para além desta questão, a verdade é que ambas  – assim como Kollontai, Balabanoff e Roland-Holst – estavam determinadas a construir um movimento de libertação da mulher que se concentrava não só na organização das operárias, mas no seu desenvolvimento como dirigentes, capazes de tomar decisões, e como marxistas revolucionárias independentes.  15

Neste ponto vale destacar o intenso papel da relação com várias camaradas que foram ponto de apoio fundamental para sua vida revolucionária, como fica evidente em suas cartas chamando as amigas a “ficarem alegres, apesar de tudo”:

Vivia com os amigos lá fora e se preocupava com eles, auscultando as cartas que lhe chegavam e sentindo, por trás de cada palavra receosa, a aflição do autor. Gostaria de dar apoio a todos. “Fica tranquila, eu te dou apoio, nada vai conseguir me derrubar […] não há em mim nenhum elemento de hesitação”, escreveu ela a Mathilde Wurm. E a Sonia Liebknecht: “Soniúcha, queridíssima, fica tranquila e alegre, apesar de tudo. Assim é a vida e é assim que devemos acolhê-la, com coragem, sem desânimo e sorridente – apesar de tudo!”. Ela se colocava inteiramente no lugar das pessoas e sabia o que cada uma precisava; ela tinha até mesmo um estilo específico para cada uma. Com Sonia, ela era solicitamente carinhosa, estimulante, alentadora; com Luise Kautsky, assumia um tom de camaradagem e fina ironia; com Clara Zetkin, tinha a serena certeza de uma amizade profunda, nascida da harmonia das ideias e da constante comunhão de lutas […]. 16

Em uma de suas cartas a Luise Kautsky se recorda de um momento em que a amiga dizia sentir certa embriaguez quando estavam juntas, como se tivessem bebido champanhe. “É justamente isso o que eu gosto em você, poder colocá-la sempre nesse estado de quem bebeu champanhe, quando a vida nos formiga na ponta dos dedos e estamos sempre prontas para qualquer loucura” 17 , dizia depois, comentando a sensação comum de grande parte das amizades femininas até os dias de hoje: “por três anos não pudemos nos ver e então, depois de meia hora, é como se tivéssemos nos visto ainda ontem” 18.

Rosa foi a dirigente revolucionária mulher mais importante da história da classe operária internacional. Conseguiu este feito tendo características que na época não eram bem vistas em uma sociedade opressora e preconceituosa: era mulher, judia, uma pessoa com deficiência e, além de tudo, estrangeira. Plekhanov, grande teórico marxista com quem ela polemizou fortemente, a definiu em certo momento como o apêndice feminino de Leo Jogiches, um de seus primeiros companheiros 19. Sendo imigrante na Alemanha também enfrentou percalços. Mas como observou Trótski sobre o fato de Rosa não falar bem o russo: “fala magnificamente o marxismo” 20. Enfrentava entre os círculos social-democratas e suas figuras mais antigas e experientes um ambiente com o qual lidava no cotidiano também de forma sarcástica e provocativa ao lado de suas amigas:

Certa vez, enquanto passeava com Clara Zetkin, aproximaram-se demais de um campo militar de tiro. Quando retornaram à casa de Kautsky, onde estavam reunidos os decanos do partido, eles desfiaram entre muitas risadas as consequências trágicas a que poderia ter levado esse descuido. Bebel tentou imaginar um epitáfio para as duas “fuziladas”; porém, ao ver que os superlativos não teriam fim, Rosa o interrompeu e disse simplesmente: “Aqui jazem os dois últimos homens da social-democracia alemã”. 21

Talvez seja possível dizer que parte da sua força e fibra vinha também de suas amizades femininas que eram permeadas não somente de afeto mas de críticas políticas e discussões de todo tipo. E a verdade é que sua vida foi uma lição de feminismo socialista na prática e, por isso, é fonte de inspiração para as novas gerações pensarem a formação de novas camadas de dirigentes mulheres socialistas e revolucionárias.

“Por azar do destino, o momento de sua chegada à Alemanha coincidiu com a explosão de uma grande tormenta no partido alemão, que abalou os alicerces de sua própria ideologia estabelecida.” 22 Um momento também no qual Rosa Luxemburgo expressava em cartas a seu companheiro Leo Jogiches, enquanto empreendia um enorme giro político em sua vida ao se mudar para a Alemanha, também seu desejo pessoal em ter um pequeno apartamento, com um trabalho tranquilo e regular, assim como em ter um filho. “Isso nunca será permitido? Nunca? 23, pensava ela. Sua trajetória foi mais grandiosa nas paixões sociais do que nas paixões pessoais. E ainda que em suas cartas revelasse suas vontades normais, também confessava o que verdadeiramente lhe tocava a alma: “É verdade que vivo mais feliz em meio à tormenta” 24 .

Em 1898, Rosa assume a direção do jornal da social-democracia alemã chamado Sächsische Arbeiter-Zeitung [Jornal dos Trabalhadores da Saxônia], no lugar de Parvus e Marchlewski, que foram expulsos de Dresden, capital da Saxônia, pela perseguição do regime. Logo ela é censurada neste jornal por um deputado com quem polemiza. Em 1899, finaliza uma publicação de ensaios onde debate com as concepções de Eduard Bernstein. Trata-se do livro Reforma social ou revolução?. “Eu preciso muito escrever de tal maneira a atingir as pessoas como um trovão” 25, disse antes de elaborar esta obra que seria um divisor de águas.

Nesse momento Rosa recusa a proposta de entrar na direção do partido. Enfrentou novas polêmicas que expressavam o bernsteinianismo atravessando fronteiras com dirigentes franceses e belgas. Em 1902 passa a dirigir o Leipziger Volkszeitung [Gazeta Popular de Leipzig], o órgão local da ala esquerda do Partido Social-Democrata Alemão. Mas é removida do cargo e substituída por Franz Mehring. Em 1904 é condenada a três meses de prisão por ofender o tsar Guilherme II: “O homem que fala da vida boa e segura dos trabalhadores alemães não tem noção dos fatos” 26. O rei Alberto da Saxônia faleceu e ela foi contemplada com uma Lei da Anistia Geral, o que considerou uma afronta, já que seria como “ganhar um presente de um Rei”, se recusando a sair da cela, mas ao fim cedendo à pressão externa. Após isso, polemiza no jornal Iskra [Faísca] e na revista Die Neue Zeit [Os Novos Tempos] contra um livro de Lênin com seu texto “Questões de organização da social-democracia russa”.

No final de dezembro de 1905, Rosa se muda para Varsóvia para acompanhar mais de perto o levante na Rússia. Em março de 1906 é presa com Leo Jogiches e libertada em junho de 1906. Depois obteve permissão para ir à Finlândia, pela facilidade de locomoção para São Petersburgo, onde encontra-se com Lênin, Bogdanov, Zinoviev, Axelrod e Vera Sazulitsch. Então escreve Greve de massas, partido e sindicatos bastante impactada pela Revolução de 1905, um livro que aborda essa experiência e avança em um debate específico contra as burocracias nos sindicatos. Em 1907, participa do Congresso do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR) em Londres, onde polemiza com os mencheviques sobre a Revolução de 1905. Também neste ano Rosa participou da Conferência Internacional de Mulheres Socialistas cumprindo um papel fundamental. Depois é presa por incitação a atos de violência devido a um discurso feito no Congresso do partido em Iena, permanecendo na prisão de 12 de junho a 12 de agosto de 1907. Nesse mesmo ano, Rosa começa a dar aulas de Economia Política na escola do partido em Berlim.

Em 1910, começa uma luta pela política em defesa da greve geral de massas e seu artigo sobre isso é vetado na revista teórica Die Neue Zeit por Kautsky. Tem início a polêmica contra a estratégia de desgaste de Kautsky, assim como um embate contra o colonialismo alemão e a adaptação do SPD a uma política meramente parlamentar. Foram anos e anos de intensa luta política mostrando o quanto Rosa se entregava ao partido. O que não lhe tirava o bom humor nem mesmo nos momentos de prisão, como quando fez piada com Clara Zetkin: “Mas você percebe que prazer negativo nós duas temos este ano: nenhuma conferência partidária! Louvado seja Marte por isso, seu único efeito sensível.” 27 Nestes momentos na prisão recebia fotos de Mimi, sua gata a quem chamava de |meu presente do coração: “As duas capturas futuristas de Mimi deveriam estar na exposição da Berliner Secession” 28, brincava com Mathilde Jacob.

Em 1913 publica A Acumulação do capital, uma de suas obras mais importantes, elaboração que abordamos brevemente no posfácio deste livro. Levando em conta que o tomo II d’O capital de Marx estava inconcluso, uma vez que este havia falecido antes de terminar, Rosa se colocou na perspectiva de finalizar esta tarefa. Como aponta Raya Dunayevskaya:

É claro que ela tinha confiança em ser a discípula de Marx, que podia cumprir a tarefa que Marx havia deixado “inconclusa”. Como ela diria mais tarde: “Claramente, ele deixou a seus discípulos resolverem este problema (como muitos outros), e minha Acumulação pretendia ser uma tentativa nessa direção”.  29

Rosa teve também uma relação com Kostia Zetkin, filho de Clara Zetkin, que era 14 anos mais novo, um fato bastante incomum na época. E uma relação amorosa com Paul Levi, como foi descoberto depois por uma série de cartas: “Ela tinha uma simpatia particular pelo excelente advogado de defesa criminal Paul Levi. De repente, em fevereiro de 1914, essa simpatia se transformou em amor. Até Sibylle Quack descobrir as cartas de Rosa Luxemburgo para ele, em 1983, ninguém sabia disso.” 30

No ano seguinte Rosa passa a lutar fortemente contra a pressão armamentista dentro do partido, sendo alvo de perseguição política e do judiciário. No contexto do enfrentamento à política militarista já no início de 1914, quando incitava a desobediência em caso de declaração de guerra, achou graça ao descobrir que suspeitavam que ela pensava em fugir:

“Querido jovem amigo”, escreveu ela a Walter Stoecker em 11 de março de 1914, “garanto-lhe que não fugiria mesmo que fosse ameaçada de forca, pela simples razão de que considero absolutamente necessário acostumar nosso partido ao fato de que o sacrifício faz parte do ofício do socialista e é um dado adquirido. Você está certo: Viva a luta!”. 31

O contexto era de sua condenação a um ano de prisão em 20 de fevereiro de 1914, diante do Tribunal Regional de Frankfurt, por um discurso em oposição à guerra proferido no ano anterior. Entretanto, diante de sua situação de saúde, ela não foi presa neste momento. Alguns meses depois, a social-democracia alemã votou os créditos de guerra, dando apoio à Alemanha na guerra imperialista, o que a levou a ter pensamentos suicidas, mas seu caminho foi o de reorganizar a ala esquerda definindo a social-democracia, a partir de então, como um “cadáver putrefato”. Em 1915 lança, junto com Franz Mehring, Clara Zetkin e outros opositores, a revista A Internacional, para enfrentar a posição nacionalista da direção do SPD. A revista é proibida e seus editores são acusados de traição em um momento no qual Rosa está presa cumprindo a pena de Frankfurt. Permanece cerca de um ano na penitenciária feminina da Rua Barnim, em Berlim. Mathilde Jacob começa a trabalhar com Rosa neste ano se tornando sua amiga e confidente, sendo quem mais a acompanhou durante sua prisão neste período. Começa a escrever o Folheto Junius, que será o documento de fundação da Liga Spartacus, organização batizada com o nome do escravo trácio que liderou a rebelião contra o Império Romano. Neste mesmo ano também escreve a Introdução à Economia Política, que seria lançada apenas em 1925.

Dentro da cadeia Rosa articula junto a Liebknecht a Conferência de Fundação da Liga Spartacus e escreve suas bases programáticas. Com alguns meses de liberdade, consegue publicar o Folheto Junius com o título “A crise da social-democracia”, que passa a circular ilegalmente. Em julho de 1916, é presa novamente e tem a sua pior experiência na prisão – em suas palavras: “O inferno de Alexanderplatz, onde minha cela tinha exatamente 11 metros cúbicos, sem luz de manhã nem à noite” 32. Em 1917 se dedica a escrever, analisar e tirar lições da Revolução Russa. A divisão na social-democracia alemã dá origem ao Partido Social-Democrata Alemão Independente. Neste período, recebe a notícia da morte de seu importante amigo Hans Diefenbach, com quem trocou inúmeras cartas durante a prisão. No ano seguinte escreve Sobre a Revolução Russa, manuscrito que não chega a concluir e que seria publicado apenas postumamente, no qual discute a política dos bolcheviques. Em julho de 1918, na prisão, escreve por encomenda a introdução do livro História de meu contemporâneo, de Vladimir Korolenko, transmitindo sua paixão pela literatura, texto que também traduz ao alemão:

A longa noite escura, a paz de cemitério, eram aparência, eram ilusão. Os raios de luz do Ocidente estavam tão-somente escondidos como forças latentes, os germes da cultura esperavam no seio da terra apenas por um momento propício para brotar. De repente, ali estava a literatura russa, como elo inequívoco da literatura europeia, em suas veias circulava o sangue de Dante, Rabelais, Shakespeare, Byron, Lessing, Goethe. Ela recuperou com um salto de leão o atraso de um século e ingressou em igualdade de condições no círculo familiar da literatura mundial. 33

Em 8 de novembro, com a queda do governo, Rosa é libertada. Assume a direção do jornal da Liga Spartacus Die Rote Fahne [A Bandeira Vermelha]. No começo de 1919, é fundado o Partido Comunista Alemão, conhecido como KPD, e, nos levantes de janeiro, Rosa defende combater a contrarrevolução, mas com uma posição crítica sobre a tentativa de tomada do poder, a qual considerava prematura. Em 15 de janeiro, é presa junto a Liebknecht, terminando assassinados sob ordens do governo do SPD. Seu corpo foi jogado no canal Landwehr, que atravessa o parque central de Berlim, Tiergarten, e só foi encontrado em maio 34. Franz Mehring, um de seus grandes camaradas, poucos dias depois da notícia de seu assassinato, recebido por ele com choque, contraiu uma pneumonia e morreu em 29 de janeiro de 1919 – segundo Peter Nettl, “em grande parte vítima da morte de seus amigos” 35. Clara Zetkin, em sua última carta a Rosa em 13 de janeiro de 1919, dizia desesperada: “Você receberá esta carta, meu amor ainda chegará até você, algum dia?” 36. E termina dizendo: “Minha luz, minha única Rosa; eu sei, você vai morrer orgulhosa e feliz. Eu sei, você nunca desejou uma morte melhor, do que cair lutando pela revolução”. Ao final do capítulo 10 deste livro, sobre as lições de janeiro de 1919, publicamos na íntegra esta última carta de Clara Zetkin a Rosa Luxemburgo, publicação rara no Brasil e uma carta que Rosa não pôde ler.

Poucos meses depois é fundada a III Internacional, sob a memória de Rosa e Karl Liebknecht. Nas palavras de Lênin:

Por encargo do Comitê Central do Partido Comunista da Rússia declaro inaugurado o primeiro Congresso Comunista Internacional. Antes de tudo, rogo a todos os presentes a honrar a memória dos melhores representantes da III Internacional, de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, fiquemos de pé.  37

Em 1935, no texto “Luxemburgo e a IV Internacional” que publicamos como epílogo deste livro, Trótski propõe colocar o trabalho pela IV Internacional, como expressão do combate ao stalinismo, sob o signo dos “três Ls”, ou seja, não apenas sob o de Lênin, mas igualmente sob o de Luxemburgo e Liebknecht 38.

Rosa para a revolução em nossa época

Rosa Luxemburgo morreu pelas mãos de uma social-democracia reformista que abdicou do “fim último” e jogou no lixo os ideais da revolução. Ela morreu por nunca abandonar esses ideais e por confiar que eles eram plenamente realizáveis. Morreu porque era parte de uma geração de marxistas revolucionários que debatia e tirava lições dos processos mais avançados da classe operária internacional. Para ela, socialismo não era uma palavra para os dias de festa. Que seu nome hoje seja utilizado pelo reformismo apagando suas ideias merece um acerto de contas.

Uma importante operação teórica e política acerca da figura de Rosa Luxemburgo nos dias de hoje é a tentativa de separação entre sua trajetória e a do bolchevismo, em particular de Lênin e Trótski. Neste livro o leitor encontrará um ponto de vista que buscará mostrar, sem medir Rosa com a trajetória destes revolucionários, como essa operação tenta apagar não somente as múltiplas convergências dentro do pensamento marxista de Rosa, Lênin e Trótski, mas também a originalidade das posições de Rosa Luxemburgo, como o enfrentamento à burocracia sindical no começo do século XX e suas conclusões acerca da Revolução Alemã de 1918.

Deste ponto de vista, o auge da convergência destes marxistas revolucionários é, sem dúvidas, a batalha contra o revisionismo e contra o oportunismo, batalha em que Rosa foi pioneira, fato pelo qual muitas vezes não é lembrada. Na atualidade vemos Rosa ser reivindicada por frases as quais não há comprovação de que ela tenha dito, como “quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem”, ou “por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”, aforismos que tem como objetivo também suavizar a sua figura, afastando-a da imagem de uma revolucionária que enfrentou de forma implacável as figuras oportunistas e revisionistas que queriam desviar os propósitos da luta revolucionária. Ainda que a simpatia que sua figura gera seja mérito da força de suas ideias, que atravessaram a história, toda a unanimidade nos meios reformistas que Rosa parece ter, na atualidade, é distante do isolamento com o qual encarou essas batalhas, e isso diz respeito à perda dos fios de continuidade do conteúdo defendido por Rosa. Queremos resgatá-los, pois são vitais para a luta revolucionária hoje.

Por isso é preciso desconstruir a ideia de que Rosa teria algo de “pacifismo” em suas posições, ou ainda alguma aproximação com anarquismo e autonomismo, que também são correntes que, atualmente, utilizam a figura de Rosa Luxemburgo contra os partidos revolucionários. Rosa sempre foi uma mulher de partido: fundou três e inclusive pecou pelo “excesso”, cometendo o equívoco de não romper com o SPD quando era necessário fundar uma nova organização. Além disso, como poderemos ver neste livro, Rosa sempre defendeu o uso da violência revolucionária como parte da luta de classes. Assim enfrentava também a hipocrisia pacifista humanitária das potências imperiais, deixando evidente seu internacionalismo vibrante em combate a toda ingerência colonial. Rosa se levantou contra a hipocrisia dos que ora pisam nos corpos humanos na África, ora querem dar “ajuda humanitária” diante da dor e sofrimento da população da Martinica com a erupção de um vulcão que resultou em mais de 30 mil mortos. E anunciou:

E agora todos eles se voltam para Martinica; num só coração e mente novamente. Ajudam, socorrem, secam as lágrimas e amaldiçoam o vulcão destruidor. Monte Pelée, gigante de grande coração, podes rir, podes olhar com aversão esses benevolentes assassinos, a estes chorões carnívoros, a essas bestas em roupas de samaritano. Mas o dia chegará em que outro vulcão levantará sua voz de trovão: um vulcão enfurecido e em ebulição, quer você precise ou não, e que varrerá da face da Terra toda a cultura hipócrita e ensanguentada. E somente sobre suas ruínas as nações se reunirão em uma verdadeira humanidade, que conhecerá apenas um inimigo mortal: a natureza cega e morta. 39

Rosa anunciava assim o vulcão da luta de classes, a classe operária internacional. Também foi possível notar fortemente sua posição anticolonialista diante da chegada de dois navios de guerra ao Marrocos, Panther e Berlim. Em julho de 1911, Rosa percebeu que a direção da social-democracia, diante deste fato brutal, estava muito mais preocupada com as batalhas eleitorais na Alemanha. Diante disso Rosa publicou um intercâmbio interno criticando duramente essa posição do SPD, o que gerou uma série de ataques contra ela. No texto “Nosso panfleto sobre o Marrocos”, Rosa é implacável:

Acrescentemos que, em todo o escrito, não há uma única palavra sobre os habitantes naturais das colônias, não há uma palavra sobre os seus direitos, interesses e sofrimentos por conta da política internacional. O panfleto fala repetidamente da “esplêndida política colonial da Inglaterra” sem mencionar as fomes periódicas e a difusão da febre tifoide na Índia, o extermínio dos aborígenes australianos e as chicotadas, com couro de hipopótamo, que são dadas nas costas dos fellah egípcios. 40

Sua atitude intransigente no que diz respeito ao internacionalismo também se verifica no intercâmbio de cartas com Mathilde Wurm, quando esta lhe escreve lamentando a situação dos judeus. Rosa, como judia, responde:

O que você quer com as dores específicas dos judeus? Eu me sinto igualmente próxima das pobres vítimas das plantações de borracha em Putumayo, dos negros da África, de cujos corpos os europeus fazem gato e sapato. Você ainda se lembra das palavras na obra do grande estado-maior sobre a campanha de Trotha no Kalahari? “E os estertores dos agonizantes, o grito insano dos que morriam de sede, ecoavam no silêncio sublime da infinitude.” Oh, esse “silêncio sublime da infinitude” no qual tantos gritos ecoam sem ser ouvidos, ele soa em mim com tanta força que não reservo nenhum cantinho especial no coração para o gueto: eu me sinto em casa no mundo todo, onde quer que haja nuvens e pássaros e lágrimas humanas.  41

Peter Nettl apontava que as ideias de Rosa tomaram expressão em forma de críticas ou polêmicas com o que ela julgava como erros, e dá um conteúdo pejorativo a esta constatação, já que considerava que, a partir deste aspecto negativo da criação de Rosa, seria nossa tarefa construir o conteúdo positivo das suas intenções 42. Entretanto, não há uma separação entre o embate de ideias diante dos erros que deturpavam o caminho revolucionário e a própria intenção positiva de Rosa, que era justamente manter “nos trilhos” o caminho para a revolução. Como apontou Karl Radek em suas memórias, com quem Rosa teve duros embates:

Todos nós que a admirávamos como nossa professora na época, todos nós, meninos, fomos influenciados por seu trabalho pelo resto de nossas vidas, mesmo quando não concordávamos com os resultados deste trabalho. […] Para Rosa Luxemburgo, o marxismo nunca foi um resultado rígido, mas sempre um método vivo de investigação. 43

Neste livro também faremos uma leitura sobre a interessante influência de Rosa Luxemburgo na intelectualidade brasileira introduzida por Mário Pedrosa em seu jornal Vanguarda Socialista e nas origens do Partido dos Trabalhadores no Brasil. É chamativo que a fundação de um partido de massas da classe operária em um país continental tenha por parte de camadas da sua intelectualidade fundacional a busca de referências no melhor do marxismo revolucionário. Isso é expressão da força desta classe operária e também das ideias de Rosa Luxemburgo. Ao mesmo tempo problematizamos as concepções desta intelectualidade e as confluências que apontam com Rosa Luxemburgo, buscando mostrar que, se é possível vê-la em algo na fundação do PT, seria justamente nesta classe operária em ação, mas especialmente em uma forte crítica à posição dos sindicalistas autênticos que, antes da fundação do PT, desviaram o processo de ascenso de 1978-1980 com as greves de massas, que poderiam ter derrubado a ditadura não fosse o papel das direções. Por isso questionamos a definição de que Rosa defendia um “socialismo democrático”, entendendo que a busca por este conceito se dá por uma motivação antistalinista de superação do PCB, mas dirige sua crítica ao bolchevismo contribuindo para uma leitura equivocada que opõe Rosa aos bolcheviques e busca no bolchevismo uma suposta raiz do stalinismo. Vale ressaltar que Rosa sempre defendeu a ditadura do proletariado. Como expressa em artigos de novembro de 1918, nos quais apontava que “hoje não se trata de democracia ou ditadura. A questão posta na ordem do dia pela história é: democracia burguesa ou democracia socialista. Porque a ditadura do proletariado é democracia no sentido socialista” 44. Também no famoso texto “O que quer a Liga Spartacus?” que foi aprovado como programa do KPD ela apontava: “Dotar a massa compacta do povo trabalhador com a totalidade do poder político para que realize as tarefas da revolução; essa é a ditadura do proletariado e, portanto, a verdadeira democracia.” 45

Também, do começo ao fim, Rosa defendeu a ditadura do proletariado como a expressão máxima da democracia das massas para destruir a ordem capitalista. Como demonstra Annelies Laschitza, as diferentes ideias sobre a relação entre reforma e revolução poderiam, para Rosa, ser unificadas sob o conceito de conquista do poder político. Nos primórdios do debate com Eduard Bernstein, embora Rosa não tenha especificado a forma com a qual o proletariado deveria organizar o seu poder político no Estado, Laschitza aponta que Rosa:

esboçou em 1899 a ditadura do proletariado como objetivo da tomada do poder revolucionário para a superação do capitalismo. Quando Bernstein se referia à definição de Marx, de que a maneira mais barata de escapar seria provavelmente “comprar a gangue inteira”, ela se contrapunha: “O que Marx possivelmente levou em consideração aqui, é o exercício pacífico da ditadura do proletariado e não a substituição da ditadura por reformas sociais capitalistas”. Com esse pensamento, Rosa Luxemburgo distinguiu-se das opiniões comuns na social-democracia alemã sobre a conquista do poder político. Wilhelm Liebknecht rejeitou abertamente a ditadura do proletariado como uma lei histórica objetiva e, na melhor das hipóteses, queria deixá-la valer como uma medida de guerra. Karl Kautsky, nos anos de 1898-1899, defendeu que a decisão sobre a ditadura do proletariado ficasse entregue ao futuro. 46

Por outro lado, o stalinismo tentou deturpar por completo a história de Rosa. Ela não viu a burocratização stalinista da Rússia acontecer, pois foi assassinada antes disso. Não é possível dizer qual seria sua atitude diante deste processo. Mas sua posição sempre foi internacionalista: “Os pensamentos, ações e esperanças de Rosa Luxemburgo visavam a revolução proletária mundial. […] Ela não conseguia imaginar a revolução em um só país, e especialmente na Rússia”. 47 Ao mesmo tempo, é sintomático que, em 1931, o stalinismo tenha “acusado” Rosa Luxemburgo de ter criado a Teoria da Revolução Permanente, cuja autoria é de Trótski, questão que ele mesmo refutou. Há biógrafos como Norman Geras que apontam que, ao final de sua vida, Rosa teria aderido à Teoria da Revolução Permanente 48, ou ainda, como aponta Peter Nettl em defesa de Rosa, “[…] intelectualmente, o trotskismo no Ocidente hoje é na realidade luxemburguismo” 49. Isaac Deutscher chegou a dizer de forma mais exagerada que Rosa Luxemburgo teria “assinado a Teoria da Revolução Permanente” representando o Partido Social-Democrata Polonês depois de 1905 em uma assembleia em Londres, onde Trótski, segundo Deutscher, havia feito uma apresentação da mesma 50. Isabel Loureiro também aponta que “a análise de Rosa Luxemburgo do desenvolvimento capitalista na Rússia, incluindo as consequências dessa análise, em muito se assemelha à de Trótski, a ponto de podermos dizer que também ela vê a Revolução Russa como ‘permanente’” 51, ao mesmo tempo que “[…] Rosa encontra-se, assim, na análise da Revolução Russa, ao lado dos bolcheviques e de Trótski […]. É verdade que ela não elabora com a clareza de Trótski uma teoria da revolução permanente, mas sua análise aponta seguramente nessa direção” 52. Trótski também aponta essa questão em sua autobiografia Minha Vida, dizendo que Rosa tinha a mesma posição de princípio que ele no tema da “revolução permanente”. Em seguida, transmite um relato sobre sua relação com ela: “Minhas relações com Rosa não chegaram a ter nenhum grau de intimidade pessoal; nos vimos pouquíssimas vezes. Eu a admirava de longe. E, ainda assim, eu provavelmente não a admirava o suficiente naquela época” 53. Em 1935, contra as espúrias acusações de Stálin a Rosa Luxemburgo, Trótski publica o texto “Tirem as mãos de Rosa Luxemburgo!”. Este livro também busca combater, nos dias atuais, todo tipo de reabilitação do stalinismo em suas distintas versões.

Por todos estes elementos, também abordamos a tese de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, que analisam criticamente o pensamento de Rosa Luxemburgo sobre a impossibilidade de uma unidade de classe através do que eles definem como teoria da espontaneidade luxemburguiana, que traria como resultante apenas uma unidade indeterminada e, portanto, também um sujeito indeterminado. São os teóricos do mal chamado “pós-marxismo”, que buscam fundamentar uma política de institucionalização dos movimentos e negação da luta de classes. Ou seja, teorias que entraram na moda para fundamentar a institucionalização de processos de luta – o que na contramão desse pensamento exige um grande debate sobre como transformar as revoltas e rebeliões da nossa época em revoluções.

Nesse sentido, no que diz respeito à sua ênfase sobre a espontaneidade das massas, é quiçá o terreno onde mais podemos, ainda que pensando a confluência deste aspecto com a preparação leninista do combate, fazer um resgate para pensar em termos de um socialismo pela base contra as experiências stalinistas e a recriação de um imaginário socialista no século XXI. Interessante inclusive para confrontar as leituras que unilateralizam Rosa como a “teórica da espontaneidade” ou sobre um suposto “socialismo democrático”, o que aponta Peter Nettl sobre sua doutrina: “A doutrina principal de Rosa Luxemburgo não era a democracia, a liberdade individual ou a espontaneidade, mas a participação – a fricção que conduz à energia revolucionária, que por sua vez conduz à maturidade da consciência de classe e à revolução” 54. Essa dialética da “participação”, uma criatividade “ativa” das massas refletindo a democracia no sentido orgânico do que uma sociedade socialista pode proporcionar efetivamente, é um aspecto no qual é possível se debruçar para pensar a superação das deturpações stalinistas. Como parte dessa reflexão, analisamos a ausência no pensamento de Rosa Luxemburgo sobre a arte da insurreição e sobre a construção de correntes revolucionárias como parte decisiva de construir “força material” pelas ideias do marxismo, portanto, um partido revolucionário que agrupe a vanguarda para coordenar a auto-organização das massas analisando as concepções de Lênin e Trótski nestes âmbitos.

São inúmeras discussões que permitem trazer para a atualidade a importância do impulso espontâneo das massas e a auto-organização, a construção de um partido que reflita a arte da insurreição, o parlamentarismo revolucionário e o enfrentamento às burocracias sindicais, o programa revolucionário e a estratégia socialista, tudo isso em um momento em que as mediações da hegemonia burguesa se ampliaram enormemente, exigindo também uma batalha por unir a classe trabalhadora, cada vez mais feminizada, negra e precarizada. Abordar todos estes debates dentre os grandes acertos e também equívocos de Rosa Luxemburgo é uma grande escola de luta revolucionária. É neste sentido que Rosa Luxemburgo: a águia da revolução buscará trazer ao público brasileiro um novo ponto de vista sobre a revolucionária polonesa. Quando o reformismo se mostra cada vez mais um caminho que fortalece o espaço para novos intentos de extrema direita e, ao mesmo tempo, assume a administração do capitalismo, essa reflexão se faz mais do que atual. Queremos mostrar seus voos altos como a única na Alemanha do início do século XX que empreendeu as batalhas teóricas e políticas até o final na defesa da revolução. Batalhas que levou adiante frente ao seu isolamento quando se viu praticamente sozinha em uma social-democracia dominada pelos dirigentes que, diante dos grandes dilemas da revolução proletária, renegaram o marxismo. Este voo alto da águia da revolução ilumina nossas gerações até a atualidade permitindo resgatar Rosa para a revolução em nossa época.

Enquanto o capitalismo transforma o mundo em uma suja prisão, destruindo todas as reservas naturais, criando uma relação completamente predatória com a natureza e os animais, atingindo níveis exorbitantes de superexploração do trabalho com precarização e terceirização, jornadas de trabalho extenuantes sem descanso, arrasando com a vida dos povos originários, criando seres humanos “ilegais” com as xenófobas leis anti-imigração, fortalecendo as polícias assassinas, avançando com mais racismo, machismo e LGBTfobia, perpetuando o capacitismo contra PCDs, massacrando a vida dos idosos e destruindo a saúde mental especialmente da juventude, temos uma tarefa urgente. Vivemos um momento em que se atualiza a época de crises, guerras e revoluções, no qual vemos genocídios como o da Palestina, mas também sua brava resistência. Da mesma forma vemos lutas e resistência da classe trabalhadora, das mulheres, dos negros, da juventude e LGBTQIAP+ em todo o mundo. Por isso temos a tarefa hoje de trazer à tona o verdadeiro conteúdo das batalhas de Rosa Luxemburgo. No Brasil, o fato de que seja o PT administrando o capitalismo brasileiro coloca a imperiosa necessidade de superação histórica pela esquerda dessa experiência, e essa é a única forma de enfrentar os novos engendros da extrema direita que sobrevivem na conciliação de classes. As lições de Rosa Luxemburgo aportam nesta perspectiva.

Filósofos se apoiaram na derrota da Revolução Alemã e no assassinato de Karl e Rosa para definir que se tratava do “fim do caminho para o socialismo revolucionário”, como disse Herbert Marcuse, que, em entrevista a Jürgen Habermas, chegou a explicar sua adesão, nos anos 1920, à filosofia heideggeriana com base nessas derrotas 55. Depois de distintas experiências revolucionárias e algumas décadas, quando a Oposição de Esquerda na Rússia resistia à burocratização, décadas depois vimos também a juventude francesa, no famoso maio de 1968, tomar as ruas em uma vibrante aliança operária-estudantil erguendo estandartes com o rosto de Rosa Luxemburgo.

Fazemos um chamado às novas gerações, lembrando que Rosa Luxemburgo iniciou sua atividade militante próxima dos seus 15 anos: todos aqueles que acreditam no fim do capitalismo mais do que no fim do mundo podem hoje se inspirar em Rosa Luxemburgo seguindo seu legado na defesa intransigente da revolução operária e socialista, seguindo sua firmeza em ser minoria quando foi necessário, seguindo seus embates frontais e aprendendo das suas batalhas. Resgatar Rosa para pensar a revolução em nossa época, na qual a classe trabalhadora, fragmentada entre trabalhadores precários e não precários, e cada vez mais feminizada e negra, precisa se levantar e se encontrar com as ferramentas do marxismo revolucionário. “Existe todo um velho mundo ainda por destruir e todo um novo mundo a construir. Mas nós conseguiremos, jovens amigos, não é verdade? Nós conseguiremos!” 56, dizia à juventude.

Hoje, nossa tarefa é mostrar, baseados nas lições dos grandes combates e também nas derrotas, o caminho do socialismo e sua atualidade no século XXI. Como dizia a revolucionária polonesa contra qualquer tipo de resignação,

Todo o caminho do socialismo – no que diz respeito às lutas revolucionárias – está inteiramente pavimentado de derrotas. E, entretanto, essa mesma história leva, passo a passo e sem parar, à vitória final! Onde estaríamos hoje sem essas “derrotas” das quais temos tirado a experiência histórica, o conhecimento, o poder, o idealismo? 57

É preciso resgatar a força de suas ideias e de suas palavras, que fizeram o dramaturgo Karl Kraus considerar que a carta de Rosa Luxemburgo sobre os búfalos e o sofrimento dos animais deveria figurar ao lado de Goethe nas cartilhas dos estudantes alemães por transmitir um profundo amor à natureza, “como um testemunho único em seu gênero de humanidade e poesia” 58.

Em homenagem a esta grande revolucionária publicamos este livro, como um instrumento na tarefa de preparar o futuro para, nas palavras de Walter Benjamin, escovar a história à contrapelo 59, nos apoiando naquela que foi uma águia da revolução e segue sendo para as novas gerações.
Porque como disse Rosa Luxemburgo: “a revolução é fabulosa, todo o resto é bobagem” 60].

Notas de rodapé

1. FRÖLICH, Paul. Rosa Luxemburgo: pensamento e ação. 1. ed. São Paulo: Boitempo; Iskra, 2019, p. 236.

2. Exsicata é cada amostra de planta prensada, seca, identificada e armazenada em um herbário.

3. LOUREIRO, Isabel. Rosa Luxemburgo: os dilemas da ação revolucionária. 3. ed. rev. São Paulo: Editora Unesp, 2019, p. 83, grifo nosso.

4. Neste livro utilizamos o termo “espontaneidade” em geral como sinônimo de “espontaneísmo”, por vezes utilizado em algumas das citações ao longo do livro. Ainda assim, optamos por privilegiar o termo “espontaneidade” por que em determinadas elaborações o termo “espontaneísmo” é utilizado ou como doutrina (diferente de “teoria”) ou em tom pejorativo.

5. ETTINGER, Elżbieta. Rosa Luxemburgo: uma vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1986, p. 11.

6. FRÖLICH, Paul, op. cit. p. 22.

7. NETTL, J. P. Rosa Luxemburg. Londres: Oxford University Press, 1966. v. 1, p. 55.

8. FRÖLICH, Paul, op. cit., p. 25.

9. FRÖLICH, Paul, op. cit. p. 29.

10. Idem.

11. NETTL, J. P., op. cit., p. 109.

12. Ibidem, p. 136.

13. Idem.

14. RUIZ, Sofia; BUHL, Lisa (org.). Vivo más feliz en la tormenta: cartas de Rosa Luxemburgo a amigas y compañeras. 1. ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Rara Avis Casa Editorial; Fundación Rosa Luxemburgo Cone Sul, 2021, p. 312.

15. DUNAYEVSKAYA, Raya. Rosa Luxemburgo: la liberación femenina y la filosofía marxista de la Revolución. 1. ed. México: Fondo de Cultura Económica, 2009, p. 25.

16. FRÖLICH, Paul, op. cit., p. 237.

17. LUXEMBURGO, Rosa. Carta à Luise Kautsky, 26 jan. 1917, em LOUREIRO, Isabel (org.). Rosa Luxemburgo: cartas. 2. ed. São Paulo: Unesp, 2011. v. 3, p. 221.

18. Idem.

19. NETTL, J. P., op. cit., p. 82.

20. TROTSKY, Leon. Mi vida: intento autobiográfico. 1. ed. Buenos Aires: Ediciones IPS; Instituto del Derecho al Asilo Museo Casa de León Trotsky, 2012, p. 232.

21. FRÖLICH, Paul, op. cit., p. 193.

22. NETTL, J. P., op. cit., p. 111.

23. LASCHITZA, Annelies. Im Lebensrausch, trotz alledem Rosa Luxemburg: Eine Biographie. [S. l.]: Aufbau, 2000, p. 156.

24. RUIZ, Sofia; BUHL, Lisa (org.). Vivo más feliz en la tormenta: cartas de Rosa Luxemburgo a amigas y compañeras. 1. ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Rara Avis Casa Editorial; Fundación Rosa Luxemburgo Cone Sul, 2021, p. 137.

25. NETTL, J. P., op. cit., p. 168.

26. FRÖLICH, Paul, op. cit., p. 91.

27. LASCHITZA, Annelies., op. cit., p. 691.

28. RUIZ, Sofia; BUHL, Lisa (org.). Vivo más feliz en la tormenta: cartas de Rosa Luxemburgo a amigas y compañeras. 1. ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Rara Avis Casa Editorial; Fundación Rosa Luxemburgo Cone Sul, 2021, p. 188. A Berliner Secession era uma associação artística de vanguarda fundada por artistas de Berlim contra o conservadorismo.

29. DUNAYEVSKAYA, Raya. Rosa Luxemburgo: La liberación femenina y la filosofía marxista de la Revolución. 1. ed. México: Fondo de Cultura Económica, 2009, p. 43.

30. LASCHITZA, Annelies., op. cit., p. 606.

31. LASCHITZA, Annelies., op. cit., p. 605.

32. NETTL, J. P., op. cit., p. 652.

33. LUXEMBURGO, Rosa. Introdução ao livro História de meu contemporâneo, de Vladimir Korolenko. Disponível em: <https://frl.rosalux.org.br/historia…>]:  . Acesso em: 10 fev. 2025.

34. FRÖLICH, Paul, op. cit., p. 305.

35. NETTL, J. P., op. cit., p. 779.

36. RUIZ, Sofia; BUHL, Lisa (org.). Vivo más feliz en la tormenta: cartas de Rosa Luxemburgo a amigas y compañeras. 1. ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Rara Avis Casa Editorial; Fundación Rosa Luxemburgo Cone Sul, 2021, p. 137.

37. LÊNIN, Vladímir. Discurso de Abertura do I Congresso da III Internacional. [S. l.], 2 mar. 1919. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/…>]:  . Acesso em: 10 fev. 2025.

38. TRÓTSKI, Leon. Luxemburgo e a IV Internacional. Texto presente na parte Outros textos deste livro.

39. HUDIS, Peter; ANDERSON, Kevin B. (org.). The Rosa Luxemburg Reader. New York: Monthly Review Press, 2004, p. 125.

40. DUNAYEVSKAYA, Raya. Rosa Luxemburgo: la liberación femenina y la filosofía marxista de la Revolución. 1. ed. México: Fondo de Cultura Económica, 2009, p. 37.

41. LUXEMBURGO, Rosa. Carta à Mathilde Wurm, 16 fev. 1917, em LOUREIRO, Isabel (org.). Rosa Luxemburgo: cartas. 2. ed. São Paulo: Unesp, 2017. v. 3, p. 237.

42. NETTL, J. P., op. cit., p. 9.

43. LASCHITZA, Annelies., op. cit., p. 320.

44. LUXEMBURGO, Rosa. La asamblea nacional, em ITURBIDE, Guillermo (org.). Socialismo o barbarie: compilación. 1. ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Ediciones IPS, 2021, p. 483.

45. LUXEMBURGO, Rosa. ¿Qué quiere la liga espartaco?, em ITURBIDE, Guillermo (org.). Socialismo o barbarie: compilación. 1. ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Ediciones IPS, 2021, p. 503-504.

46. LASCHITZA, Annelies, op. cit., p. 176.

47. LASCHITZA, Annelies, op. cit., p. 775.

48. GERAS, Norman. A actualidade de Rosa Luxemburgo. 1. ed. Lisboa: Antídoto, jan. 1978, p. 53.

49. NETTL, J. P., op. cit., p. 11.

50. DEUTSCHER, Isaac. Trotsky: el profeta armado. 1. ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Ediciones IPS, 2020. v. 1, p. 177.

51. LOUREIRO, Isabel., op. cit., p. 152.

52. Idem, p. 155.

53. TROTSKY, Leon.Mi vida: intento autobiográfico. 1. ed. Buenos Aires: Ediciones IPS; Instituto del Derecho al Asilo Museo Casa de León Trotsky, 2012, p. 232.

54. NETTL, J. P., op. cit., p. 13.

55. LOUREIRO, Isabel., op. cit., p. 50.

56. LUXEMBURGO, Rosa. A socialização da sociedade, em LOUREIRO, Isabel (org.). Textos escolhidos, vol.II, 2. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2017, p. 279.

57. LUXEMBURGO, Rosa. El orden reina en Berlín, em ITURBIDE, Guillermo (org.). Socialismo o barbarie: compilación. 1. ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Ediciones IPS, 2021, p. 556.

58. KRAUS, Karl. Die Fackel [A Tocha]. Apud BOUVERESSE, Jacques. O que significa tratar os animais com humanidade?. 159. ed. [S. l.]: Le Monde Diplomatique Brasil, 1 out. 2020. Disponível em: https://diplomatique.org.br/o-que-significa-tratar-os-animais-com-humanidade/. Acesso em: 14 nov. 2024.

59. BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história, em BARRENTO, João (org.). O anjo da história. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016, p. 13.

60. LUXEMBURGO, Rosa. Gesammelte Briefe. 3. ed. Berlim: Dietz, 1999. v. 2. p. 259. A frase “Die Revolution ist großartig, alles andere ist Quark!”, foi escrita em uma carta a Mathilde Wurm e Emanuel Wurm, em julho de 1906. Nela, Rosa usa o termo Quark, bastante comum na língua alemã até os dias atuais. O termo em português brasileiro poderia ser traduzido popularmente por “bela bosta”. Cometemos essa delicada infração em traduzirmos por “bobagem” em nome da discrição editorial. [N.E.]

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