Flavia Valle
Professora da rede estadual de ensino de Minas Gerais.
Leandro Lanfredi
Diretor do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ).
Em 2022 e 2023 as greves e lutas operárias já tinham começado a sair de sua importante baixa durante a pandemia e governo Bolsonaro. Em 2024 muitas categorias ligadas ao funcionalismo federal, estatais e funcionalismo estadual e municipal entraram em luta. Também é notório como fenômeno que adentra este ano de 2025 um importante protagonismo de terceirizados da esfera pública e estatais. Como estas lutas conectam-se com crescentes aspirações dos trabalhadores, como se nota na luta contra a escala 6X1? Como elas se conectam com frustrações e experiências que estão se fazendo com o governo Lula? O que há de novo nas lutas em curso, que em alguns casos expressam uma importante aliança com outros setores, como por exemplo os povos indígenas no Pará? A análise e entendimento do estado de subjetividade e lutas da classe trabalhadora brasileira é ao que se dedica este artigo.
MUNDO DO TRABALHO
Entender quais são as mobilizações da classe trabalhadora em curso, o que elas têm levantado e o que elas apontam (em potencial) é crucial para que possamos não somente observar o que acontece, mas atuar para contribuir a que possam rumar ao que podem fazer. De tempos em tempos, o Esquerda Diário tem se dedicado a analisar esse fenômeno, pontuando em sua análise em 2023 sobre as greves de 2022 como vinhamos de uma ascendência na conflitividade e expectativas na classe trabalhadora, saindo do fosso de greves na pandemia e governo Bolsonaro. Na análise de 2024 tomando os dados e fatos de 2023, entre outros elementos, saltam aos olhos as importantes greves do metrô de SP contra as privatizações, e por outro lado, também outros setores que vinham sofrendo derrotas, como no metrô de BH onde o governo Lula, junto a Zema deu continuidade a privatização iniciada sob Bolsonaro.
As lutas em curso e as orientações concretas adotadas em sindicatos importantes no país não são só “dados” de pesquisa, mas fruto de embates concretos entre diferentes concepções políticas, permitindo ou impedindo que expressem o potencial das lutas e demandas operárias. Permitindo ou não que expressem de forma consciente todo o potencial da ligação das lutas operárias com os setores oprimidos do país, tal como a luta no Pará mostrou. Um exemplo forte nesse sentido é o que foi feito pelos metroviários de São Paulo no dia 25/02, um dia de luta contra as privatizações e a escala 6×1, uma votação que ocorreu por proposta do Movimento Nossa Classe em oposição às posições da burocracia sindical, da corrente majoritária naquele sindicato a Resistência/PSOL entre outras que eram contra os trabalhadores do metrô entrarem em luta por suas pautas e por pautas nacionais como estas.
Uma análise e uma política a partir das análises das greves precisa unir esses elementos subjetivos com diversos dados objetivos. Parte das análises prévias citadas, dos dados do DIEESE do primeiro semestre de 2024, dos dados do mesmo órgão relativos ao ano de 2023 e de aspectos subjetivos das greves passadas e presentes, dedicamos esse artigo a pensar alguns insights o atual estado de espírito na classe trabalhadora brasileira e seu potencial. Particularmente relevante essa reflexão em um momento onde há primeiros sinais e interrogantes sobre o fim de ciclo dos governos do PT, há insatisfação com a economia real, sentida pela classe trabalhadora que se expressa também pelos recentes índices de desaprovação do governo. E aponta-se uma experiência com o governo Lula, pode-se dar pela esquerda ou pela direita, e evidentemente, é pela primeira opção que nos colocamos a perspectiva de construir.
Um país das greves de funcionalismo, estatais, e terceirizados do setor público
No balanço de greves do primeiro semestre de 2024 apresentado pelo Dieese alguns dados chamam atenção: das 452 greves registradas apenas neste período, 55% foram no setor público, mostrando a persistência da maior conflitividade deste setor, mantendo exatamente a mesma proporção de greves do que em 2023, 55%. No entanto, o dado em si não expressa bem o ano de 2024 que teve importantes greves do funcionalismo federal começando ou terminando no segundo semestre (universidades federais, INSS, IBAMA, IBGE). Dito isso, como aponta o próprio Dieese, grande parte das greves passam a ter o orçamento público como campo de disputa. O estudo também mostra uma maior conflitividade dos trabalhadores das áreas que atendem a direitos da população (educação, saúde, saneamento básico, proteção ambiental, transporte) e que foram alvos de cortes do governo de Frente Ampla por via do Arcabouço Fiscal, o novo teto de gastos do governo Lula-Alckmin.
Outro dado chamativo é o caráter das reivindicações: têm ocorrido, ao mesmo tempo, um ligeiro aumento tanto de lutas de caráter defensivo (manutenção de direitos existentes) com um ligeiro aumento das lutas de caráter propositivo (por novos direitos). As lutas caracterizadas pelo DIEESE com um caráter defensivo passaram de 78% em 2023 para 81% no primeiro semestre de 2024, enquanto ao mesmo tempo o caráter chamado de propositivo passou de 49,8% para 51,4%. Ou seja, aparenta ocorrer um ligeiro aumento da conflitividade não aceitando perdas ao mesmo tempo que também luta-se por um algo a mais de direitos. O que indica a continuidade de uma recomposição da subjetividade de trabalhadores que após anos lutando contra as violentas retiradas de direitos pelos capitalistas e pela extrema direita, passa a expressar em suas greves uma elevação das ambições.
Por fim, e não menos importante: das greves no setor privado 62% aconteceram em empresas públicas e em órgãos do estado ou em concessões públicas privatizadas, mostrando um aumento em relação aos 56% vistos tanto em 2022 como em 2023. Ou seja, greves de trabalhadores terceirizados/privatizadas que atuam nos serviços públicos e trabalham nas mais diferentes áreas como no asseio, saúde, educação, transporte etc.
O somatório de funcionalismo/estatais e terceirizados da mesma esfera totaliza um impressionante número de 84% de todas as greves do país no primeiro semestre de 2024. Isso é um pouco a cara de quem luta no país, mas ao mesmo tempo uma expressão de um imenso potencial se ocorre confluência destes setores tão próximos mesmo que diversos e tão divididos pela atuação das burocracias sindicais que alimentam um corporativismo dos efetivos em relação aos terceirizados e a predominância de sindicatos absolutamente patronais, cartoriais e vendidos que representam os terceirizados (na maior parte dos casos).
A movimentação dos terceirizados em setores de funcionalismo/estatais ocorre na maior parte dos casos contra seus sindicatos e com algum nível de apoio dos trabalhadores dessas categorias. Em diversos locais de trabalho é visível como a conflitividade de terceirizados alimenta a conflitividade e maiores aspirações de próprios, e vice-versa. Isso sempre se vê na Petrobrás, por exemplo, alguma luta de funcionários efetivos é sempre precedida ou sucedida por uma onda de greves de terceirizados. A luta do administrativo da Petrobrás do Rio de Janeiro, que cruzou seus braços de forma inédita no dia 26 de fevereiro foi precedida de diversas greves de terceirizados de outubro a janeiro.
A luta dos terceirizados, em sua maioria negros e mulheres em nosso país, tem crescentemente se tocado com o fenômeno da forte pauta contra a escala 6×1 que tomou o país, uma pauta essencialmente da classe trabalhadora. Diversas pautas de luta de terceirizados abordam diferenças em escalas de trabalho e no caso dos terceirizados de BH foi uma greve que tinha explicitamente como uma de suas demandas contra a escala 6X1, o mesmo se vê agora com a greve de terceirizados da UNICAMP. O fenômeno de redes sociais e assinaturas online contra essa escala, ganha agora esse componente novo: se expressa também em greves.
A tercerização, a precarização do trabalho, a extensão e abusividade das escalas, a falta de representação sindical dos terceirizados, são alguns dos pilares da super-exploração no Brasil, com a terceirização expandida como nunca antes nos primeiros governos petistas, mantidas e aprofundadas pelo governo golpista de Temer e da extrema direita de Jair Bolsonaro, e que tem seus pilares garantidos de forma intacta também pelo governo Lula 3 com a manutenção das reformas trabalhista, da previdência, do novo ensino médio e da terceirização irrestrita, que, recentemente, ganhou renovado ataque por parte do STF que garantiu que o Estado e suas autarquias estão isentos de responsabilidades se empresa contratada não pagar salários e outros direitos dos terceirizados. A terceirização em 2020, já representava 25% de todos trabalhadores CLT do país, número que seguramente vem aumentando ano a nao.
O aumento de lutas de terceirizados de serviços públicos é também por sua vez expressão de algo que nota-se em todo país. Atualmente uma das maiores preocupações não é o desemprego, mas a precarização da vida e do trabalho.
Um fantasma ronda os locais de trabalho, o fantasma da luta pela vida além do trabalho
O que há de novo se mostrando na pauta contra a escala 6×1 e nas lutas de terceirizados?
O fenômeno contra a escala 6×1 se instalou de norte a sul no país e com ele se fortaleceu a ideia da necessidade da vida além do trabalho. Uma reivindicação potente contra a super-exploração capitalista e como esta atinge de forma ainda mais intensa trabalhadores que ocupam os postos de trabalho mais precarizados, em sua maioria mulheres e negros. E como também toca fortemente os direitos LGBTQIAPN+ visto que parte expressiva dos trabalhadores que vivem as extenuantes jornadas 6×1 por todo país são também jovens parte da chamada geração Z (aproximadamente aqueles que têm entre 12 e 30 anos em 2025) que toma mais para si a luta por demandas sensíveis às pautas LGBT, do feminismo e do anti-racismo. Além de serem nativos digitais e terem as redes sociais como uma plataforma que também pode ser usada a favor de suas demandas como vimos no alcance nacional das denúncias contra a escala 6×1 (e é um contraponto de classe importante contra a política da extrema direita que internacionalmente usa as redes sociais a favor das longas jornadas, da meritocracia, do individualismo, do racismo, machismo e lgbtfobia).
As lutas e greves que se conectam com a pauta pela vida além do trabalho podem ser uma verdadeira potência como vemos elementos disso em politização e debates entre trabalhadores contra a super-exploração, o que se conecta com os questionamentos de fundo do racismo e o machismo (como vamos analisar a seguir).
Também por perceberem esse enorme potencial as direções das grandes centrais sindicais seguem cumprindo o papel de desmobilização, levantando em absolutamente nenhum lugar alguma mobilização contra essa escala, mesmo quando elas têm na base de sindicatos que dirigem milhares de trabalhadores nesta escala, exemplo ao contrário disso foi a votação no Metrô de SP referida no início do artigo.
Greve de terceirizados da educação de Belo Horizonte: uma exemplo da luta contra a escala 6×1 e contra a terceirização
Tivemos no final de fevereiro um exemplo na greve de trabalhadores terceirizados da educação da rede municipal de Belo Horizonte, em sua grande maioria mulheres e negros e que ocupam as mais variadas funções nas escolas: portaria, caixa-escolar, apoio aos estudantes, mecanografia, cantina, limpeza etc. A partir de forte mobilização nas escolas iniciaram sua greve e protagonizam os maiores atos de rua de trabalhadores terceirizados da história de BH (com milhares nas ruas) lutando por melhorias salariais, contra a escala 6×1 e pela equiparação de direitos com trabalhadores que atuam nas mesmas áreas. Vale destacar que a pauta de luta contra a escala 6X1 nesta categoria acontece antes de uma luta dos efetivos por essa pauta, já que em muitos lugares os trabalhadores da educação já vivem essa escala.
Nas assembleias se expressaram fortemente as falas com relatos de trabalhadoras mães solo que devido a sobrecarga de trabalho ficam com ainda menos tempo para cuidar dos filhos. Ou sobre como as extensas jornadas são o principal motivo do agravamento da saúde mental e denúncias do racismo em que trabalhadoras terceirizadas relembram das senzalas ao não terem direito sequer a um ambiente para poderem se alimentar nas escolas. Ainda que falte uma direção sindical capaz de unir efetivos e terceirizados com a batalha contra a terceirização e pela efetivação sem concurso público de todos trabalhadores terceirizados com a garantia de todos os direitos, esta greve mostrou uma alta moral dos trabalhadores que enfrentam os patrões da empresa terceirizada (MGS) e a chapa do prefeito e vice-prefeito de BH (Fuad Noman – PSD e Álvaro Damião – União Brasil), a mesma que foi apoiada pela frente ampla e que o PSOL fez campanha no segundo turno (como se fossem uma alternativa contra a extrema direita).
Destacamos também entre as greves contra a escala 6×1 a dos operários da fábrica Pepsico ano passado (2024), em suas plantas de Sorocaba e Itaquera (cidades do estado de São Paulo) e que envolveu cerca de 1300 trabalhadores, e neste artigo destacamos como está em curso neste momento (08/03) uma greve de terceirizados da UNICAMP com esta pauta de fim da escala 6X1.
Petroleiros: a efervescência da luta por direitos entre efetivos e terceirizados
Os petroleiros efetivos são provavelmente uma das categorias com maiores direitos conquistados no país. Essa situação contrasta fortemente com os terceirizados na mesma categoria, que compõe cerca de 120mil enquanto os efetivos são cerca de 55mil. Desde ano passado dois fenômenos vem ocorrendo em paralelo e ainda com limitada confluência. De um lado temos uma inédita mobilização dos trabalhadores administrativos que lutam contra uma medida autoritária da presidência da Petrobrás (nomeada por Lula) que decretou o aumento de dias presenciais. E, por outro lado, em paralelo, lutas de terceirizados por novos direitos e contra os recorrentes atrasos de salário e outros direitos.
Esta luta inédita dos petroleiros do administrativo que já nos referimos neste artigo também expressa um aumento, de 2024 ao presente, dos conflitos de funcionalismo e estatais federais contra o governo Lula ou no mínimo seus indicados nas empresas e instituições, como também se mostrou no IBGE contra a privatização que estava em curso via fundação privada chamada IBGE+. Esta lutas detalham como este governo vem promovendo ataques aos trabalhadores, do Arcabouço Fiscal aos direitos dos trabalhadores nas estatais, autarquias e funcionalismo, porém esta conclusão política clara do que representam esses movimentos não termina de aparecer dado o papel da burocracia sindical e seus aliados, como é o caso do Resistência/PSOL em petroleiros. Onde possível orientam a que não tenham lutas “para não fortalecer a extrema direita”, e quando não há como não haver luta atacam os trabalhadores (como aconteceu no IBGE com escandalosa nota da Frente Brasil Popular dirigida pelo PT e a Frente Povo sem Medo dirigida pelo PSOL), ou tentam fazer imensos malabarismos para livrar o governo Lula das responsabilidades sobre as ações de Pochman ou Magda Chambriard.
Apesar destes limites nas conclusões políticas, essa mobilização dos petroleiros do administrativo também expressa também novidades subjetivas que se conectam ao espírito de “vida além do trabalho”. A mobilização contra o aumento de dias presenciais expressa um desejo de ter maior tempo livre. O Rio de Janeiro é a capital com maior tempo de deslocamento em transporte no país, argumento esse que é onipresente nas massivas assembleias em curso. Outro importante argumento sobre o tempo em trabalho presencial é expresso pelas mulheres petroleiras, argumentando como o trabalho híbrido permite melhor conjugar a dupla ou tripla jornada que sofrem. Há diversos debates em curso sobre como essa luta também deveria adotar posições em defesa dos terceirizados e do fim da escala 6×1 na Petrobrás e no país, debates esses que tem surgido em algumas assembleias petroleiras (inclusive de parte de independentes) e o movimento Nossa Classe vem defendendo na categoria.
Em terceirizados da Petrobrás, em meio a obras de expansão da indústria petrolífera, tem ocorrido greves em muitas unidades do país, sejam elas contra calotes em salários e direitos, mas especialmente chamativas são as greves de caráter “ofensivo”. Nos meses de outubro e novembro ocorreram greves em unidade no Rio de Janeiro (TABG) para igualar o salário com o praticado em Duque de Caxias, e foi conquistado, em carta escrita pelo Presidente da Petrobrás Transporte (Transpetro) que isso seria cedido na troca de contratos em abril/maio deste ano. Essa conquista significa duplicar ou triplicar (!) o salário destes terceirizados. Mais chamativo ainda é que esta greve que aconteceu contra a direção do Sindmetal-Rio (dirigido pela CTB) só terminou 17 dias depois da conquista da promessa de triplicar o salário porque os terceirizados não aceitavam sair da greve sem conquistar por escrito que não haveria nenhum desconto aos seus salários depois do que somou ao final 32 dias de greve.
No final de novembro, depois das trágicas mortes dos trabalhadores terceirizados Diego e Herbert no Terminal de Angra dos Reis (TEBIG) ocorreram greves para ter direito ao luto (Transpetro queria que todos trabalhassem já no dia seguinte) e em sua sequência diversas paralisações para igualar os direitos ao recém conquistados no TABG. Essas greves tanto no TABG como TEBIG se entrelaçaram com outras greves, às vezes na mesma empresa terceirizada, contra calotes. Mostrando na prática o que os números já mostravam, não há nenhum fosso entre o que o DIEESE chama de “greves defensivas” e “greves propositivas”.
Greves da educação: professores do Pará em aliança com povos indígenas mostram os limites da conciliação, e o papel dos partidos governistas, incluindo o PSOL
Na educação cada vez mais precarizada pelos ataques de governos estaduais e pelo aprofundamento da implementação do Novo Ensino Médio, as greves voltaram a se fortalecer. Em 2023 a reivindicação histórica do pagamento do Piso Salarial da Educação foi centro de importantes greves pelo país e a incorporaram também pautas como a da revogação do Novo Ensino Médio.
Já entre as greves da educação no ano passado (2024) destacamos a greve dos trabalhadores da educação da rede estadual do Ceará. Nesta greve que teve repercussão nacional os trabalhadores se revoltaram contra o golpe da direção do sindicato, ligada majoritariamente ao PT e PCdoB, que foi expulsa e teve que sair escoltada por seus seguranças e bate paus. Como apontamos em artigo sobre as lições dessa greve, esse evento mostrou, ainda que de forma embrionária, que os trabalhadores podem assumir o protagonismo de suas lutas e enfrentar o pacto entre as burocracias instaladas nas direções dos principais sindicatos do país (CUT e CTB) e os ajustes levados a frente pelo governo de frente ampla. Outra importante greve contra um governo da frente ampla foi a greve de professores municipais do Rio de Janeiro (novembro e dezembro de 2024) que se enfrentaram não somente com um ataque de Eduardo Paes mas também com o posicionamento de vereadores do PT que tem secretarias neste governo.
Nesse ano (2025) os trabalhadores da educação do Pará junto aos povos indígenas deram um grande exemplo e sua vitória https://www.esquerdadiario.com.br/Povos-tradicionais-e-professores-do-Para-avancam-em-sua-luta-e-impoem-conquista-contra-Barbalho tem relevância nacional. O movimento enfrentou novos ataques do governo dos Barbalho (MDB) contra a educação, em especial contra a educação indígena. Eles resistiram contra todas as ameaças do governo estadual que usou forte aparato repressivo para tentar intimidar o movimento. E denunciaram a tentativa de desvio da mobilização levado a frente pela atuação do Ministério dos Povos Indígenas com a presença de Sônia Guajajara e Célia Xacriabá (ambas do PSOL), que estiveram na ocupação da Secretaria de Educação do Pará com o objetivo de tentar enxugar a pauta de reivindicações e atendendo aos chamados da frente ampla de proteger o governo de Barbalho e seu secretário da educação Rossieli. Este que o movimento exigia a saída da Secretaria de Educação e que foi o mesmo a implementar em São Paulo o Novo Ensino Médio (quando era secretário da educação paulista no governo Doria) e tendo sido ministro da educação do golpista Temer.
O movimento indígena e dos professores paraenses porém não cedeu e com a combatividade dos povos originários e a entrada em greve dos trabalhadores da educação mostraram qual a força capaz de derrotar os ataques, sem nenhuma confiança nas instituições (como nas negociações na Assembléia Legislativa do Pará) e no judiciário. E desta forma conseguiram derrubar a lei 10.820/2024, impondo uma grande vitória contra a política de conciliação e de governadores da direita ligados à frente ampla. Um grande exemplo para todos trabalhadores do país.
No ano de 2025 já estamos começando a ver outras greves da educação, Piauí e Rio Grande do Norte (dois estados governados pelo PT), Niterói (PDT da Frente Ampla) e Florianópolis (PSD), e para estas lutas o exemplo paraense pode ser ainda mais forte do que para o conjunto dos trabalhadores de nosso país.
Greves do funcionalismo federal em 2024 marcaram uma primeira experiência com o governo de frente ampla
O ano de 2024 foi marcado por fortes greves do funcionalismo que apontaram uma frustração e também primeira experiência com governo federal: professores e técnicos das universidades e institutos federais, Ibama e ICMBIO, IBGE, INSS. Estas greves que aconteceram no segundo ano do governo Lula, onde não primava a forte desaprovação do governo como vemos nos índices atuais, tiveram impacto e extensão nacional e se enfrentaram contra medidas de austeridade do governo federal que foram ampliadas por via do Arcabouço Fiscal, o novo teto de gastos do governo Lula/Alckmin, além disso em vários casos se enfrentaram com medidas antissindicais por parte do governo Lula e do judiciário federal.
Os professores e técnicos das universidades e institutos federais se enfrentaram com a intransigência do governo que se recusou a ceder às demandas. Já as greves do IBAMA e do ICMBIO que sofreram um inaudito ataque do governo Lula e do judiciário que impôs inéditas multas individuais aos grevistas (e não somente aos sindicatos). Trabalhadores do INSS também foram alvo de criminalização da greve pelo governo Lula e tiveram e sua greve judicializada para o governo garantir sua política de austeridade fiscal, medida que foi revertida apenas com a ocupação do prédio da Seguridade Social em Brasília. Também chamativa foi a greve dos profissionais da saúde federal no Rio de Janeiro contra a entrega do hospital federal de Bonsucesso para a prefeitura de Paes para que este o privatizasse, para derrotar sua mobilização o governo federal colocou não somente a PM, mas também a Força de Segurança Nacional para reprimir essa greve. É chamativo que o Sindisprev-RJ que dirige essa categoria (ligado a CTB e PCdoB), tenha estampado cartazes que diziam “Lula, traidor da saúde”.
Do que é ao que pode vir a ser
Temos tido importantes greves de trabalhadores no país neste início de ano de 2025 dando continuidade ao que já víamos em 2024. Especialmente forte o exemplo do Pará mostra o potencial de ligação a com movimentos de mulheres, negros e negras, LGBT e povos indígenas. A greve de terceirizados de BH e da UNICAMP apontam a continuidade e transformação do fenômeno de luta contra a escala 6X1. As greves no funcionalismo ano passado e a continuidade das mobilizações no IBGE, e agora de petroleiros apontam como nas estatais e funcionalismo federal aponta-se a uma primeira experiência com o governo de frente ampla Lula/Alckimin e que esta experiência pode se desenvolver em uma luta contra as privatizações, por maiores direitos, e não somente à direita como repete a burocracia sindical governista e de certo modo também seus aliados do PSOL, que agora passa por uma forte crise, que não deixa de estar desvinculada a crise da própria Frente Ampla.
É partindo desta realidade que pode se lutar pelo vir a ser que o país do trabalho precário, que é um dos campeões mundiais em mortes por acidentes de trabalho, poderia virar a ser um de luta contra a super-exploração. Para isso é necessária uma forte luta pela unidade das fileiras dos trabalhadores, superando a divisão entre efetivos e terceirizados, dando um corpo superior a estes, que têm sido justamente os dois principais batalhões a entrar em greve no país. Do mesmo modo que as greves de 2024 e 2025 mostram que não há nenhum abismo que separa uma luta “defensiva” de uma “propositiva”, também não há fosso natural e intransponível de efetivos e terceirizados, nem de luta da classe trabalhadora e luta de outros setores oprimidos como os indígenas, como se viu no Pará.
Para acontecer essa unidade de força potencial imensa é preciso superar as burocracias sindicais patronais que dirigem a maior parte dos sindicatos que representam os terceirizados, superar um corporativismo elitista da maior parte de sindicatos que representam os efetivos em estatais, autarquias e no funcionalismo público, e assim ao mover maiores forças poder exigir das grandes centrais sindicais, como CUT e CTB, que rompam com sua paralisia e coloquem de pé lutas pelo fim da escala 6X1, pela revogação das reformas trabalhista e da previdência, por igualdade de escalas e direitos de efetivos e terceirizados e por sua incorporação sem concurso público nas estatais e unidades do funcionalismo onde trabalham.
A serviço dessas batalhas pela unidade das fileiras operárias, pela frente única operária e a aliança com movimentos sociais que colocamos nossas forças desde os trabalhos que construímos no movimento operário e que se expressa inclusive em direções de sindicatos e oposições sindicais. E que impulsionamos junto a milhares de ativistas, trabalhadores, sindicatos e intelectuais como Ricardo Antunes e o jurista Souto Maior o “Manifesto contra a Terceirização e a Precarização do Trabalho”. E que pela atuação do Nossa Classe em metroviários de São Paulo foi possível a aprovação em assembleia da categoria do dia de lutas em 25/02 contra a escala 6×1, contra as privatizações e em defesa dos povos indígenas.
A existência de uma extrema direita encorajada por Trump e companhia, não obriga a que tenhamos que abrir mão de qualquer reivindicação, como gostariam direções da CUT e CTB “para não alimentar a extrema-direita”. Muito pelo contrário, diversas lutas do funcionalismo e das estatais, apontam um caminho que é somente enfrentando os ataques do governo Lula que podemos encarar a sério o enfrentamento da extrema-direita e os ataques, terceirizações e privatizações ainda maiores que desejam.