Redação
Após três dias de intensos debates, o Congresso de Revolução Permanente terminou neste último domingo com objetivos claros: impulsionar uma luta internacionalista contra a extrema-direita, uma campanha contra o regime decadente da V República, o processo de dois de nossos militantes por se solidarizarem com a Palestina, e um chamado à extrema-esquerda para enfrentar os desafios que virão.
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O primeiro congresso do Revolução Permanente (RP), que integra a Rede Internacional do Esquerda Diário e é membro da Fração Trotskista pela reconstrução da IV Internacional, foi encerrado em 2 de fevereiro, após três dias de intenso e rico debate. O evento refletiu a evolução do RP nos últimos dois anos. Mais de 500 pessoas participaram do processo, em comparação com as 300 de 2022, e a composição social da organização também mudou, com mais da metade dos delegados sendo trabalhadores de diversos setores, desde a petroquímica até a saúde, passando pela alimentação, comércio varejista e aeronáutica.
Entre eles estão vários dirigentes operários que participaram de grandes lutas dos últimos anos, como Christian Porta. Em 2024, junto com seus companheiros, obteve uma vitória contra a repressão sindical no país, após 6 meses de luta pela sua reintegração, enfrentando a patronal do gigante agroalimentar InVivo, que tentava demiti-lo. Os resultados dessa experiência foram debatidos em várias intervenções no congresso, em relação à luta contra a influência da extrema-direita em nossa classe.
Os jovens também estiveram presentes, com militantes do Le Poing Levé de várias universidades francesas, já que a organização existe atualmente em 18 centros de estudo por todo o país. Entre eles, os militantes de Le Poing Levé de Bordéus, que recentemente realizaram uma grande manifestação ao criar um comitê de ação contra a extrema-direita em Bordéus Montaigne, o qual contribuiu para expulsar os grupos de extrema-direita que intimidavam os estudantes da universidade.
A situação internacional e o internacionalismo no centro do debate
A situação internacional e o internacionalismo consequente estiveram no centro dos debates do primeiro dia. A eleição de Trump e sua série de ofensivas nos últimos dias marcaram o início de uma nova etapa, na qual a tendência para crises e guerras vai aumentar. Em um momento em que Elon Musk não esconde suas ambições de apoiar a extrema-direita a nível internacional, e em particular na Alemanha, nas eleições parlamentares, levanta-se um desafio para os trabalhadores e setores oprimidos de todo o mundo.
Esse debate foi conduzido pelas delegações da nossa corrente internacional FT-IC da Espanha, Itália e Alemanha, que inauguraram o Congresso. Os militantes do RIO (Alemanha) puderam contar a experiência de sua campanha revolucionária nas eleições legislativas de Berlim e Munique, junto ao RSO (Organização Socialista Revolucionária). A luta contra todas as formas de nacionalismo, e em particular contra o protecionismo, apoiado pela extrema-direita, mas também por uma parte da esquerda, surgiu como uma questão importante. Em um momento em que a patronal francesa quer pressionar o governo para que defenda mais ativamente seus interesses, e frente ao reagrupamento internacional de correntes reacionárias, o Congresso votou a organização de um grande encontro internacional para os próximos meses.
No movimento operário, “não é aliando-nos com os Bernard Arnault contra os trabalhadores americanos, chineses e senegaleses que podemos esperar defender os interesses dos trabalhadores nos próximos anos”, insistiram vários delegados operários como Gaëtan Gracia, militante aeronáutico, Vincent Duse, aposentado da indústria automobilística, e Adrien Cornet, operário de refinarias, todos eles envolvidos em lutas contra demissões nos últimos anos.
Por outro lado, voltaram a insistir na necessidade de dar vida aos princípios internacionalistas em cada luta, e de construir movimentos independentes da patronal e do Estado para defender o emprego frente aos planos patronais. Um grande número de militantes operários também participou da seção internacional do congresso, sublinhando a importância de uma perspectiva internacionalista em suas atividades políticas e sindicais.
A necessidade de uma resposta à crise da V República
A nível nacional, os debates se centraram nos resultados das grandes lutas dos últimos anos, na luta contra a influência da extrema-direita na classe operária, tarefa central do movimento operário, e na crise da V República. François Bayrou (primeiro-ministro da França) vai impor esta semana seu orçamento de austeridade com dois decretos do antidemocrático artigo 49.3 da Constituição (que permite ao executivo impor uma lei sem a votação do parlamento). Enquanto isso, a crise política continua, reforçando os traços mais autoritários e racistas do regime da V República, como ilustra a retórica em torno da “submersão migratória” (expressão utilizada por Bayrou, extraída da ultradireita).
Diante das políticas de todas as forças de esquerda nos últimos anos, que se apoiaram nas instituições do regime e apostaram na saída eleitoral, impulsionando alianças com forças como o Partido Socialista, os últimos acontecimentos nos lembraram do beco sem saída de tais soluções.
Em um momento em que a patronal começa a bater na mesa com o punho, os delegados desenvolveram o desafio de propor outra forma de enfrentar a ofensiva autoritária. Uma das resoluções do Congresso é lançar uma grande campanha para defender as reivindicações democráticas radicais: contra a V República, pela abolição da Presidência da República, do Senado e de todas as instituições antidemocráticas.
Enquanto certas forças políticas pretendem defender a “democracia”, em particular La France Insoumise, levar a sério essa luta significa dotar-se dos meios para fazê-lo, lutando com os métodos da luta de classes, não com os do regime, e com um programa sério: uma Assembleia única, que concentre os poderes executivo e legislativo, e cujos deputados sejam eleitos entre toda a população, sem distinção de nacionalidade, que recebam um salário médio e que sejam passíveis de revogação.
Em um plano mais imediato, na atual crise política, o congresso insistiu na necessidade de denunciar e lutar para quebrar a barreira das 500 assinaturas, que já está se mostrando uma enorme alavanca para impedir que as forças radicais se expressem nas próximas eleições presidenciais. Embora o primeiro dia do congresso tenha sido marcado pela absolvição de Hicham e Mayes em Nanterre (processados por uma ação de solidariedade com a Palestina durante uma partida de basquete), os debates abordaram o desafio de organizar uma grande campanha internacional em solidariedade com os dois militantes do RP, entre eles nosso porta-voz Anasse Kazib, que serão julgados no dia 18 de junho deste ano por sua solidariedade com a Palestina, e com todos os atacados do movimento pró-Palestina.
Reconstruir a esquerda revolucionária e construir frentes de esquerda revolucionária
O congresso, de conjunto, destacou o avanço dado pelo Révolution Permanente tanto em termos numéricos, de ressonância e protagonismo dentro do espectro da esquerda radical, como o sucesso da recente campanha de contribuições financeiras que arrecadou mais de 580.000 euros, ou o papel que desempenhou nas lutas-chave dos últimos anos, mas também o desafio e a urgência de ir mais longe diante da aceleração dos acontecimentos. Reconstruir uma verdadeira organização revolucionária no país, capaz de fazer ouvir sua voz e seu programa, e de influenciar as lutas futuras, é um desafio importante se quisermos construir um futuro diferente daquele proposto pela classe capitalista.
Uma organização que deve ser capaz de consolidar suas fortalezas no movimento operário e entre a juventude, de reforçar as políticas já empreendidas em diversos âmbitos, como o antirracismo e o feminismo, mas também de desenvolver seu trabalho ideológico e editorial, em particular em favor do comunismo, após o sucesso, em 2024, das iniciativas tomadas por ocasião do centenário da morte de Lenin e do encontro ” Recolocar a revolução na ordem do dia”.
Trata-se de uma tarefa que só pode ser vista em uma perspectiva internacionalista, no contexto do trabalho da FT-IC para reconstruir a IV Internacional, mas também em discussão com o resto da esquerda radical. Diante do agravamento da situação, com graves consequências sociais para os trabalhadores, com o forte aumento do desemprego nos últimos meses e os planos de demissões em massa, o congresso debateu a importância de se dirigir às organizações que se consideram revolucionárias, em particular Lutte Ouvrière e o NPA-R, para levantar a questão de mais intercâmbios políticos, campanhas conjuntas e frentes eleitorais, que permitam aos comunistas revolucionários fazerem ouvir sua voz, em particular nas próximas eleições.
Sem esconder sob o tapete nossas discordâncias, que se expressaram recentemente sobre a questão da Palestina, uma política desse tipo seria um grande passo à frente para levar uma perspectiva operária, revolucionária e internacionalista à política nacional. O exemplo da Argentina, onde o Frente de Izquierda y los Trabajadores Unidad (FITU) agrupa as principais organizações da esquerda radical e lhes permitiu obter posições nas instituições legislativas para levar uma voz operária e revolucionária a serviço das lutas (em particular contra a extrema-direita de Milei), é rico em ensinamentos sob esse ponto de vista.